O estado moderno - absolutismo
O
Estado absoluto da Idade Moderna apresentou um caráter ambíguo, refletindo o
sentido de transição do período. De um lado, foi um "Estado feudal
transformado" com a burocracia. administrativa, formada em grande parte
pelos senhores feudais; que mantinham valores e privilégios seculares; e outro,
um dinâmico agente mercantil, unificando mercados, eliminando barreiras
internas que entravavam o comércio, uniformizando moedas, pesos e leis, além de
empreender conquistas de novos mercados.
Entretanto,
nascido da aliança rei-burguesia na Baixa Idade Média, da necessidade
socioeconômica e da política da época, acabou se tornando parasitário e
aristocrático, necessitando cada vez mais de uma crescente tributação. Em fins
da Idade Moderna, o poderio e esplendor dos reis absolutistas opunham-se ao
empreendimento burguês, à lucratividade e à capitalização em curso, levando ao
processo das revoluções burguesas que, ao derrubar os monarcas absolutistas,
inaugurariam o mundo contemporâneo.
Teóricos
do absolutismo
No
início da Idade Moderna, mudanças culturais expressas pelo Renascimento, que
reestruturou a ideologia política europeia permitiram desbancar a supremacia da
mentalidade escolástica. Com uma ideologia política livre das amarras da
Igreja, puderam surgir teorias justificadoras do Estado absolutista.
Para
Tomás de Aquino, o criador da escolástica, a política possuía um conteúdo
ético, estando subordinada a valores ditados pela Igreja. Segundo a concepção
tomista, o imperativo da moral, do bem comum e o respeito aos direitos naturais
do homem compunham os fundamentos limitadores do poder político.
Na
Idade Moderna, os intelectuais, sobrepujando a mentalidade medieval, criaram
uma -ideologia política típica do período, legitimando o absolutismo. Alguns,
como Maquiavel, defendiam a teoria de que a política, representada pelo
soberano, deveria atender ao "interesse nacional". Outros, como
Hobbes, partiam da concepção de um "contrato entre governados e
Estado". Vários foram os pensadores que se destacaram na teoria política
do período absolutista.
O mais
importante deles foi Nicolau Maquiavel (1469-1527), membro do governo
dos Médicis, de Florença. Em suas obras (Mandrágora, Discursos sobre a
década de Tito Lívio, O príncipe), expressa revolta quanto à situação da
Itália, devastada pela divisão em repúblicas rivais. Aponta como solução para o
país o despertar do interesse nacional, abrangente, postura que deveria ser
assumida pelo "príncipe", a fim de restaurar a unidade da República
italiana.
O príncipe, de Maquiavel
"O príncipe atormentou a humanidade durante quatro
séculos. E continuará a atormentá-la...". A frase refere-se à obra de
Maquiavel que serviu de instrumento teórico a muitos governantes autoritários e
totalitários, do século XVI ao século XX: àqueles que fizeram da "razão de
Estado" o pretexto para sufocar liberdades individuais de toda a
sociedade.
Sobressaem-se em sua obra outras frases, que isoladamente,
fora de contexto, têm servido a ditadores diversos: "O triunfo do mais
forte é o fato essencial da história humana". "Todos os profetas
armados venceram, desarmados arruinaram-se." "Desprezar a arte da
guerra é o primeiro passo para a ruína, possuí-la perfeitamente, eis o meio de
elevar-se ao poder."
Assim, "Maquiavel — nome próprio universalmente
conhecido, que teria de formar um substantivo, 'maquiavelismo', e um adjetivo,
'maquiavélico' — evoca uma época, a Renascença; uma nação, a Itália; uma
cidade, Florença; enfim, o próprio homem, o bom funcionário florentino que, na
maior ingenuidade, na total ignorância do estranho futuro, trazia o nome de
Maquiavel, votado à reputação mais ruidosa e equívoca".
CHEVALIER, Jean-Jacques, As grandes
obras políticas — de Maquiavel a nossos dias. Rio de Janeiro, Agir, 1960. p.
48.
Maquiavel,
no livro O príncipe, aconselha o soberano florentino a que fique acima
das considerações morais, mantendo a autonomia política. Para ele, "os
fins justificam os meios" e a razão de Estado deve sobrepor-se a tudo, ou
seja, o soberano tudo pode fazer quando busca o bem-estar do país. Quando está
em jogo o interesse do Estado — sentencia Maquiavel — até a "força é justa
quando necessária".
Preocupado
com o estabelecimento de um Estado forte, Maquiavel defende que a autoridade do
príncipe, embora às vezes brutal e calculista, é vital para o seu sucesso e
consequentemente para o do Estado. Num posicionamento contrário à concepção
tomista, chega a questionar se seria preferível a um príncipe ser amado ou ser
temido, e conclui: "Creio que seriam desejáveis ambas as coisas, mas, como
é difícil reuni-las, é mais seguro ser temido do que amado".
Thomas
Hobbes (1588-1619), considerado por muitos o teórico que melhor definiu a
ideologia absolutista, articulou um sistema lógico e coerente para apresentar a
necessidade do Estado despótico. O próprio título de seu livro, Leviatã
(nome do monstro fenício do caos), nos dá a ideia do que para ele seria esse
Estado: uma grande entidade todo-poderosa que dominaria todos os cidadãos.
Hobbes
justifica o Estado absoluto apontando-o como a superação do "estado de
natureza". Para ele, na sociedade primitiva ninguém estava sujeito a leis,
tendo tão-somente de satisfazer sua avidez intrínseca pelo poder, pelo
interesse próprio. Levando uma "vida solitária, pobre, grosseira,
animalizada e breve", todos estavam permanentemente em guerra entre si — o
homem era como "um lobo para o homem" (homo homini lupus).
Numa
fase posterior, os homens dotados da razão, do sentimento de autoconservação e
de defesa buscam superar esse estado natural de destruição unindo-se para
formar uma sociedade civil, mediante um CONTRATO segundo o qual cada um
cede seus direitos ao soberano. Dessa forma, renuncia-se a todo direito de
liberdade, nocivo à paz, em benefício do Estado.
Hobbes
conclui que a autoridade do Estado deve ser absoluta, a fim de proteger os
cidadãos contra a violência e o caos da sociedade primitiva, motivo pelo qual
os homens se unem politicamente, organizando-se num Estado absoluto e vivendo
felizes tanto quanto permite a condição humana. Hobbes afirma ainda que "é
lícito ao rei governar despoticamente, já que o próprio povo lhe deu o poder
absoluto".
Jacques
Bossuet (1627-1704), de 1670 a 1679, cuidou da educação do filho do rei
francês Luís XIV, escrevendo Memórias para a educação do delfim e Política
segundo a Sagrada Escritura, obras em que estabeleceu o princípio do direito
divino dos reis, isto é, do poder real emanado de Deus. Segundo Bossuet, a
autoridade do rei é sagrada, pois ele age como ministro de Deus na terra, e
rebelar-se contra ele é rebelar-se contra Deus.
A
teoria de Bossuet influenciou sobremaneira os reis franceses da dinastia
Bourbon, Luís XIV, Luís XV e Luís XVI, dando-lhes subsídios para incorporar a
noção de "direito divino" à autoridade real. "Aquele que deu
reis aos homens quis que eles fossem respeitados como Seus
representantes", afirmava Luís XIV.
Outro
teórico absolutista de destaque foi Jean Bodin (1530-1596), autor de A
República, que defendia a ideia da "soberania não partilhada". Para
ele, a soberania real não pode sofrer restrições nem submeter-se a ameaças,
pois ela emana das leis de Deus, sendo a primeira característica do príncipe
soberano ter o poder de legislar sem precisar do consentimento de quem quer que
seja. Hugo Grotius (1583-1645), autor de Do direito da paz e da guerra,
trata basicamente do direito internacional, mas defende também o governo
despótico, o poder ilimitado do Estado, afirmando que sem ele se estabeleceria
o caos, a turbulência política.
O
absolutismo francês
O
início do processo de centralização política na França remonta ao período dos
capetíngeos, na Baixa Idade Média, tendo-se acelerado depois da Guerra dos Cem
Anos (1337-1453), com a dinastia seguinte, a dos Valois. O apogeu do
absolutismo, entretanto, só se configuraria com a dinastia dos Bourbons.
Na
época dos Valois, o cenário político francês foi dominado pelas "guerras
de religião", destacadamente durante o século XVI, dificultando a completa
centralização política. Burgueses, nobres e populares, uns sob a bandeira
protestante e outros sob a católica, disputavam espaços na sociedade e na
política, envolvendo os próprios soberanos Valois. Além das questões
religiosas, católicos e protestantes discordavam quanto a limitar ou apoiar as
prerrogativas do rei e quanto a manter ou conquistar liberdades.
Durante
o governo de Carlos IX (15601574), acirrou-se a luta entre católicos e
huguenotes (na França, os protestantes calvinistas). A facção católica liderada
pela família Guise, que tinha o apoio de Catarina de Médicis, mãe do rei, e a
huguenote dirigida pelos Bourbons colocaram em confronto a nobreza católica
defensora dos antigos privilégios feudais e a burguesia mercantil calvinista. O
ponto máximo dessa luta foi a Noite de São Bartolomeu — 24 de agosto de
1572 em que foram massacrados milhares de protestantes. Dentre os líderes
huguenotes mortos neste massacre estava o Almirante Coligny, que foi
decapitado e seu corpo arrastado pelas ruas de Paris.
A Noite de São Bartolomeu
“Catarina de Médicis era aristocrática, católica e ambiciosa e
os protestantes vinham adquirindo em seu país influência e riqueza cada vez
maiores. Seu filho, o rei Carlos IX, tinha, aliás, entre os que o cercavam
alguns huguenotes, como o Almirante Gaspar de Coligny, líder dos protestantes.
Catarina promoveu, então, um atentado contra a vida de
Coligny, que, entretanto, acabou apenas ferido no braço. A tensão tornou conta
de Paris e Catarina conseguiu envolver todo o governo para uma ação definitiva
contra Coligny e os protestantes, preparando a Noite de São Bartolomeu. A
cidade foi cercada e cerca de três mil huguenotes foram mortos por hordas de
católicos. A matança assumiu feições de uma guerra civil”.
Dois
anos depois, com a morte de Carlos IX, subiu ao trono seu irmão Henrique III,
que governou até 1589. Durante seu governo, o católico Henrique Guise disputou
a hegemonia política com o próprio rei Henrique III, que era apoiado pelo
protestante Henrique de Navarra Bourbon. Essas disputas — conhecidas como a Guerra
dos Três Henriques – terminariam com o assassinato de Henrique Guise e a
vitória do protestante Henrique de Navarra, definido como herdeiro e sucessor
de Henrique III. Começava a dinastia Bourbon, durante a qual o absolutismo
francês alcançaria seu auge.
A
dinastia Bourbon
Henrique
de Navarra, protestante, teve de enfrentar a oposição dos católicos para ser
coroado rei da França. Os conflitos armados estenderam-se por todo o país e
Henrique e seus adeptos conseguiram tomar Paris. Contudo, os católicos
obtiveram ajuda militar de Felipe II da Espanha, e Henrique teve de abandonar a
capital, sofrendo sucessivas derrotas.
Buscando
compor-se com os católicos e conseguir transformar-se no rei dos franceses,
Henrique abandonou o protestantismo, proferindo a frase "Paris bem vale
uma missa". As portas de Paris foram abertas a Henrique, e ele subiu ao
trono da França, em 1589, com o título de Henrique IV, reinando até 1610.
Em
1598, para encerrar a quase secular divergência religiosa na França, promulgou
o Edito de Nantes, que concedia liberdade de culto aos protestantes. Com
a pacificação do país, foi possível a consolidação do absolutismo na França.
Após a
morte de Henrique IV, assume o trono francês, aos nove anos de idade, Luís
XIII (1 610-1643), ficando a regência com sua mãe, Maria de Médicis. Em
1612, foi convocado, pela última vez até a Revolução Francesa de 1789, o
Parlamento — chamado Estados Gerais o que indicaria que os Bourbons,
absolutistas por excelência, dispensavam as interferências dos deputados dos
Estados Gerais.
Durante
o reinado de Luís XIII, destacou-se a atuação do ministro de Estado, cardeal
Richelieu (1624-1642). Buscando enfraquecer a influência política da
nobreza, cassou direitos dos que se opunham ao rei, chegando mesmo a atacar
seus castelos. De outro lado, possibilitou o acesso da burguesia a cargos da
administração pública e, apesar de garantir a liberdade religiosa, perseguiu
protestantes, limitando seu poderio.
No
plano internacional, a ação de Richelieu também foi marcante, tornando a França
uma das grandes potências europeias da época. Preocupado com o poderio da
dinastia Habsburgo, que nos séculos XVI e XVII reinava na Espanha, no Sacro
Império, na Holanda e em alguns reinos italianos, Richelieu levou a França a
intervir na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Esse conflito começara
com disputas religiosas no Sacro Império Romano-Germânico e acabou por
desdobrar-se num confronto entre a dinastia dos Habsburgos e a dos Bourbons,
que visava à hegemonia política na Europa. Defrontaram-se católicos Habsburgos
(Áustria e Espanha) e protestantes da Boêmia, Dinamarca, Suécia, Holanda e
principados alemães. A França interveio na guerra lutando contra os católicos a
fim de enfraquecer os Habsburgos.
A
guerra terminou em 1648, já no reinado de Luís XIV, com a vitória da França,
que impôs aos Habsburgos a Paz de Vestfália. Com a vitória, a França
recebia as províncias da Alsácia e Lorena, além dos bispados de Metz, Toul e
Verdun.
O
apogeu do absolutismo francês se deu no reinado de Luís XIV (1643-1715)
— o Rei Sol que assumiu o trono ainda criança, tendo como ministro o cardeal
Mazzarino. Aplicando uma eficiente política centralizadora, Mazzarino
eliminou as frondas, associações de nobres e burgueses, opositoras do
absolutismo e especialmente revoltadas com os crescentes tributos baixados pelo
Estado para recuperar o tesouro público francês, após a Guerra dos Trinta Anos.
A vitória de Mazzarino representou o fim da última ameaça à consolidação do
absolutismo, e a partir de 1660, quando Luís XIV assumiu pessoalmente o comando
político da França, passou a aplicar a sua máxima "L'Etat c'est moi”
("0 Estado sou eu").
Após a
morte de Mazzarino, em 1664, Luís XIV entregou o ministério das finanças a Jean
Baptiste Colbert, que desenvolveu a base mercantilista do absolutismo
francês. O mercantilismo de Colbert, além de fazer prosperar a burguesia, dotou
o governo de recursos que garantiam seu poderio. Promoveu-se, assim, o
desenvolvimento das manufaturas e da navegação, além de conquistas territoriais
na Asia e América, criando-se companhias de comércio incentivadas pela Coroa.
Espelhando
a grandiosidade econômica e política do Estado, Luís XIV transferiu sua corte
(perto de seis mil pessoas) para Versalhes, um grande conjunto
arquitetônico construído entre 1661 e 1674, que atraiu as atenções de toda a
Europa.
O
século XVII, época de Luís XIV, foi um período de grande efervescência cultural
na França, destacando-se importantes pensadores e artistas como Descartes,
Pascal, La Fontaine, Racine e Moliàre.
Na
política externa, buscando garantir sua hegemonia territorial, Luís XIV
envolveu a França em confrontos militares que abalaram as finanças do Estado.
Para solucionar suas dificuldades financeiras, mantinha a política de aumento
de impostos, descontentando a burguesia e atraindo críticas e oposição.
Em
1685, fiel ao seu caráter despótico e fundamento no princípio “um rei, uma lei,
uma fé”, Luís XIV reformulou a política religiosa nacional, revogando o Edito
de Nantes. A perseguição religiosa desencadeada levou milhares de huguenotes,
em geral burgueses, a emigrar, arruinando a economia mercantil e abrindo espaço
às primeiras críticas ao regime absolutista.
A
supremacia francesa na Europa começava a se fragmentar, dando lugar à hegemonia
inglesa. Esse processo acelerou-se durante os governos de Luís XV
(1715-1774) e de Luís XVI (1774-1792), nos quais a asfixia financeira do
Estado e da Nação agravou-se, devido aos gastos excessivos da Corte, aos
ilimitados impostos sobre a burguesia e a população e aos fracassos militares.
A Guerra
dos Sete Anos (1756-1763) e a Guerra de Independência dos Estados Unidos
(1776-1781) ajudaram a acelerar a decadência do Estado absoluto francês. Na
Guerra dos Sete anos, a França enfrentou a Inglaterra disputando o mercado
europeu e áreas coloniais; derrotada, perdeu o Canadá e a Índia. Mais tarde, o
dispendioso apoio à vitoriosa Guerra de Independência dos Estados Unidos contra
a Inglaterra aprofundou as dificuldades econômicas do Estado francês. Assim,
após Luís XIV, o absolutismo francês foi perdendo sua força e, pouco a pouco, surgiram
as condições para a eclosão da Revolução Francesa de 1789, que demoliria o
Antigo Regime na França.
A
monarquia absoluta na Inglaterra
O
início da centralização política na Inglaterra só ocorreu após as guerras dos
Cem Anos (1337-1453) e das Duas Rosas (1455-1485), que arruinaram a nobreza
inglesa, possibilitando a ascensão da dinastia Tudor (1485-1603). Foi
essa dinastia que, com o apoio da burguesia e do Parlamento, instalou o
absolutismo no país.
Henrique
VII (1485-1509), o primeiro governante Tudor, pacificou o país e consolidou
o Estado nacional inglês. Mas foi Henrique VIII (1509-1547) que,
sujeitando o Parlamento, deu as características absolutistas à monarquia
inglesa. Realizou a Reforma protestante na Inglaterra, fundando, com o Ato
de Supremacia de 1534, a Igreja anglicana, da qual se tornou a maior
autoridade. Seu filho e sucessor, Eduardo VI (15471553), garantiu em seu
curto reinado a reforma religiosa, mas sua irmã e sucessora Maria I
(1553-1558), casada com o rei católico da Espanha, Felipe II, restabeleceu o
catolicismo, perseguindo ferozmente os protestantes ingleses.
Elizabeth
I (1558-1603), outra filha de Henrique VIII, assumiu o trono com a morte de
Maria I e retomou a política do pai, consolidando o anglicanismo. Desenvolveu
também agressiva política mercantilista, buscando aumentar o poderio da
Inglaterra nos mares.
Em seu
reinado, iniciou-se efetivamente a colonização da América do Norte, com a
fundação, em 1584, da colônia de Virgínia, por Sir Walter Raleigh. Ao
mesmo tempo, como meio de enfraquecer os poderosos impérios espanhol e
português, Elizabeth I apoiou a atividade corsária, na qual se destacou Francis
Drake, que seria consagrado nobre pela rainha devido aos serviços prestados ao
reino.
Em
1588, Felipe II da Espanha armou uma expedição naval para atacar a Inglaterra e
confirmar a hegemonia espanhola em todo o mundo. A chamada Invencível Armada,
entretanto, foi destruída pelas forças inglesas, levando à ruína o poderio
espanhol, que entrou em acelerada decadência econômica. Portugal, que nessa
época estava unido à Espanha, formando a União Ibérica (15801 640), devido a
razões sucessórias, sofreu os reflexos dessa ruína.
Em
1603, encerrou-se a dinastia Tudor com a morte de Elizabeth l, que não deixara
herdeiros. Por razões de parentesco, o trono passou para o rei da Escócia,
Jaime l, que iniciou a dinastia Stuart.
Contudo,
os Tudors deixavam um país com a autoridade real consolidada, só que em acordo
com o Parlamento, especialmente fortalecido com os favorecimentos realizados
para com a pequena nobreza e os comerciantes.
Muitos
dos novos grupos emergentes da sociedade inglesa, dinamizada pela política
mercantilista, pelo comércio, pelos cercamentos (terras de onde os camponeses
foram expulsos, trocando a produção agrícola nos moldes feudais pela produção
rural comercial, inicialmente prevalecendo a criação de ovelhas), e até pela
pirataria patrocinada pelo próprio Estado, foram elevados aos altos postos
governamentais (Conselho Privado, tribunais e outros cargos), iniciando um
processo de ampliação de prestígio e busca de maiores espaços políticos no
Estado inglês. Não raramente, tais grupos sociais emergentes abraçavam o
puritanismo, imbuído de uma visão religiosa e política mais sintonizada com
seus anseios.
Ao
contrário, no final do período Tudor, a tradicional aristocracia, muito mais
comercial, empreendedora e ciosa de autonomia que a aristocracia feudal do
continente, apegava-se fortemente ao anglicanismo e até ao catolicismo
desbancado pelo Ato de Supremacia de Henrique VIII. Essas forças sociopolíticas
iriam criar sérias turbulências no governo dos Stuarts.
Os
governantes Stuart
Jaime
I (1603-1625) uniu a Inglaterra à Escócia, sua terra natal, ao mesmo tempo
que se aliou aos grandes nobres, desencadeando a insatisfação da burguesia e do
Parlamento, que o consideravam estrangeiro. Para garantir-se no trono, Jaime I
vendeu inúmeros títulos de nobreza e promoveu a adoção rigorosa do
anglicanismo, o que resultou em violentas perseguições a católicos e puritanos
calvinistas.
Muitos
puritanos, avessos ao absolutismo anglicano do monarca, dirigiram-se para o
Novo Mundo, dando início, de fato, à colonização da América inglesa. Os
primeiros embarcaram no navio Mayflower e fundaram Plymouth, a
primeira colônia de povoamento puritana da região que seria conhecida como Nova
Inglaterra, no nordeste da América do Norte.
Carlos
I (1625-1648), sucessor de Jaime l, tentou reforçar o absolutismo
estabelecendo novos impostos sem a aprovação do Parlamento, o que agravou a
tensão entre a Coroa e os deputados. Em 1628, o Parlamento sujeitou o rei ao
juramento da "Petição dos Direitos" — também chamada de
Segunda Carta Magna inglesa —, que garantia a população contra tributos e
detenções ilegais. Obtendo em troca a aprovação dos impostos que queria em
1629, Carlos I dissolveu o Parlamento. Reconvocou-o apenas em 1 640, quando
necessitou de fundos para conter uma rebelião iniciada na Escócia; mas, diante
da insistência dos deputados em limitar os poderes reais, Carlos I tentou
dissolvê-lo novamente. Esse confronto desencadeou uma violenta guerra civil na
Inglaterra.
A
guerra civil (1641-1649) e a República puritana (1649-1658)
As
forças inglesas dividiram-se em dois partidos: os Cavaleiros,
partidários do rei, que contavam com o apoio dos latifundiários, dos católicos
e dos anglicanos; e os Cabeças Redondas, defensores do Parlamento.
Liderados por Oliver Cromwell, os Cabeças Redondas derrotaram os
Cavaleiros em Naseby, aprisionando e executando o rei e instaurando o regime
republicano, denominado Commonwealth.
A
execução de Carlos I marcou um fato inédito na história europeia, pois, pela primeira
vez, um monarca foi executado por ordem do Parlamento e não por intrigas
palacianas. Ao tomar essa decisão, a sociedade, representada pelo Parlamento,
sepultava um princípio político central do Estado moderno: a ideia da origem
divina do rei e de sua incontestável autoridade. A guerra civil inglesa
fomentou novas ideias, que prenunciavam os acontecimentos do século seguinte, o
"Século das Luzes", lançando as bases políticas do mundo
contemporâneo.
Inicialmente,
Cromwell governou a Inglaterra com o apoio do Parlamento, composto em sua
maioria de puritanos — os calvinistas ingleses. Em 1653, Cromwell dissolveu o
Parlamento e impôs uma ditadura pessoal, assumindo o título de Lorde
Protetor da República. A ditadura inglesa perdurou até sua morte, em 1658.
Durante
o governo de Cromwell, a Inglaterra foi adquirindo os contornos da potência
mundial que se tornaria nos séculos seguintes. Para tanto, priorizou-se o
desenvolvimento da indústria naval, lançando-se, a partir de 1650, os Atos
de Navegação, decretos que protegiam os mercadores ingleses e suprimiam a
participação holandesa no comércio britânico, muito forte até então. Essa
situação levou a uma guerra entre Holanda e Inglaterra (16521 654), da qual
esta saiu vitoriosa, consolidando sua hegemonia marítima.
Após a
morte de Cromwell (1 658), iniciou-se um período de instabilidade e de lutas
internas, até que o Parlamento voltou a reunir-se, decidindo pelo
restabelecimento da monarquia, com o retorno da dinastia Stuart.
A
volta dos Stuart e a Revolução Gloriosa (1688-1689)
Carlos
II (1660-1685), filho de Carlos I e educado na corte de Luís XIV, era
simpatizante do catolicismo e tentou restabelecer o absolutismo na Inglaterra.
Diante das pretensões do monarca, o Parlamento dividiu-se em dois partidos: Whig,
composto de burgueses liberais, adversários dos Stuart e partidários de um
governo controlado pelo Parlamento; e Tory, conservadores, absolutistas,
pró-Stuart e adeptos do anglicanismo.
Com a
morte de Carlos II, tomou o poder Jaime II, que deu continuidade à
política de restauração do absolutismo, sofrendo por isso oposição dos Whigs.
Entretanto, em 1 688, um acontecimento desfez toda a base política de Jaime II,
fortalecendo decisivamente a oposição e precipitando uma revolução que
derrubaria o absolutismo inglês. Depois do casamento com uma esposa
protestante, do qual nasceram duas filhas, Jaime II, já idoso, casou-se
novamente, dessa vez com uma católica. Em 1688, ocorreu o inesperado nascimento
de um herdeiro, um filho católico. Whigs e Tories, contrários à sucessão de um
governante católico que seria suspeito de reinstaurar o catolicismo e
definitivamente o absolutismo —, aliaram-se contra Jaime II, oferecendo o trono
a Guilherme de Orange, protestante, casado com uma das filhas do
primeiro casamento de Jaime II e chefe de Estado da Holanda.
Guilherme
III invadiu a Inglaterra, expulsou Jaime II e, vitorioso, jurou o Bill of
Rights (Declaração de Direitos), que estabelecia as bases da monarquia
parlamentar, ou seja, a superioridade da autoridade do Parlamento sobre a do
rei. Determinou-se também a criação de um exército permanente, a garantia da
liberdade de imprensa e da liberdade individual, a proteção à propriedade
privada e a autonomia de atuação do poder judiciário. Definiu-se ainda que
novas taxações teriam de ser aprovadas pelo Parlamento e, segundo o Ato de
Tolerância, que haveria liberdade religiosa a todos os protestantes.
Assim,
as decisões tomadas com a Revolução Gloriosa, nome que se deu à queda de Jaime
II, firmavam a substituição da monarquia absolutista pela monarquia parlamentar
constitucional. Essa Revolução teve, para a Inglaterra, o mesmo papel que, para
a França, teve a Revolução Francesa de 1789, no que se refere à derrubada do
Estado absoluto e ao surgimento das condições políticas essenciais à burguesia,
como a edificação de um Estado burguês, favorável à posterior eclosão da
Revolução Industrial.
O
absolutismo no restante da Europa
Embora
tenha sido a política dominante da Idade Moderna em toda a Europa, o
absolutismo apresentou peculiaridades em cada região em que se instaurou.
Na Prússia
parte da Germânia O Estado absolutista formou-se somente a partir do século
XVII, com Frederico Guilherme Hohenzollern de Brandemburgo (16401688).
Com a Reforma luterana do século anterior, a região se fragmentara em diversos
principados, controlados pelos nobres.
Compondo-se
com os senhores locais – junkers – Frederico Guilherme tomou medidas que
levaram à criação do Estado nacional prussiano, como a ampliação dos tributos
nacionais e do exército e o estímulo ao desenvolvimento comercial e à criação
de companhias de comércio.
Frederico
I (1688-1713) continuou o processo de centralização e seu sucessor, Frederico
Guilherme I (1 713-1740), fortaleceu o Estado, incentivando a militarização
(serviço militar obrigatório) e o serviço público. Frederico II
(1740-1786) incentivou o desenvolvimento comercial e manufatureiro, fazendo da
Prússia um dos mais importantes Estados da Europa.
Na Rússia,
o grão-ducado de Moscou desenvolveu-se na Baixa Idade Média como um centro
aglutinador do Império Russo. Desde então, os príncipes foram estendendo seus
domínios, culminando com Ivan, o Grande (1462-1505), que se proclamou czar
(= César) de toda a Rússia, ampliando seu domínio até o oceano Glacial
Ártico e os montes Urais. Foi nesse período que se construiu a sede
governamental, o Kremlin. Com Ivan, o Terrível (1533-1584), a
expansão russa fez-se em direção ao sul e ao oriente, ao mesmo tempo que se
colonizou a Sibéria.
Entretanto,
foi com Pedro, o Grande (1672-1725) que a Rússia buscou a europeização,
através do desenvolvimento econômico e da implantação de instituições típicas
do Estado moderno europeu. Instaurou-se um eficiente intervencionismo estatal
nos moldes do mercantilismo, desenvolveu-se exército e marinha regulares e
modernizados, fez-se a estruturação financeira do Estado, implantando-se uma
administração pública eficiente. Promoveu-se também o comércio, atenuando laços
feudais e garantindo, inclusive, autonomia às cidades frente aos senhores rurais
(boiardos). Como decorrência, também os costumes se ocidentalizaram, com a
obrigatoriedade de uso da indumentária europeia e a absorção de alguns hábitos
das cortes, como o tabagismo.
Catarina
II (1762-1796) reforçou a política modernizadora e centralizadora de seus
antecessores, transformando a Rússia numa importante potência europeia, através
de incentivos culturais, como a fundação da Universidade de Moscou e de
inúmeras escolas primárias, além da correspondência com importantes pensadores
ocidentais
Na Áustria,
Estado agrícola e feudal, o despotismo foi exercido pela dinastia dos
Habsburgos, destacando-se Maria Teresa (1740-1780), que organizou um
exército nacional, e José II (1780-1790), que buscou centralizar a
administração e a cultura, inspirando-se em Estados ocidentais.