Jamil Chade Colunista do UOL
30/01/2024 20h39
Numa
rara declaração conjunta, os chefes das principais entidades internacionais
fizeram um apelo na noite desta terça-feira para que os governos desistam da
ideia de suspender recursos para a agência da ONU para os refugiados
palestinos, a UNRWA. A iniciativa ocorre no mesmo dia em que o maior doador, o
governo dos EUA, anunciou que vai exigir uma reforma completa da entidade,
antes de voltar a dar recursos. Já Israel chama a agência da ONU de
"fachada para o Hamas".
Em
Nova Iorque, uma reunião de emergência foi realizada entre a entidade e seus
principais doadores, depois dos escândalos envolvendo a suspeita de que doze
dos 13 mil funcionários da agência teriam participado dos ataques do Hamas
contra Israel, em 7 de outubro de 2023. Israel ainda acusa 190 funcionários da
agência da ONU de serem agentes duplos do Hamas.
Como
resultado, 17 países anunciaram que estão suspendendo os repasses para o
organismo em Gaza, responsável por atender a 2,2 milhões de pessoas. Juntos,
esses doadores representam mais de 50% do orçamento da entidade que já avisou
que deixará de operar ao final de fevereiro se os recursos não forem
restabelecidos.
"As
alegações de envolvimento de vários funcionários da UNRWA nos hediondos ataques
a Israel em 7 de outubro são horríveis", afirmam os diretores das
principais agências internacionais e da ONU. "Como disse o
secretário-geral (António Guterres), qualquer funcionário da ONU envolvido em
atos de terror será responsabilizado", alertaram.
Mas
eles apontam que não é hora de deixar Gaza sem dinheiro.
"Não
devemos impedir que uma organização inteira cumpra seu mandato de atender
pessoas com necessidades desesperadas", afirmam.
"Os
eventos angustiantes que vêm ocorrendo em Gaza desde 7 de outubro deixaram
centenas de milhares de pessoas desabrigadas e à beira da fome. A UNRWA, como a
maior organização humanitária em Gaza, tem fornecido alimentos, abrigo e
proteção, mesmo quando seus próprios funcionários estão sendo deslocados e
mortos", explicam.
"As
decisões de vários Estados-Membros de suspender os fundos da UNRWA terão
consequências catastróficas para a população de Gaza. Nenhuma outra entidade
tem a capacidade de fornecer a escala e a amplitude da assistência de que 2,2
milhões de pessoas em Gaza precisam com urgência", alertam.
"Apelamos
para que essas decisões sejam reconsideradas", pedem.
Segundo
eles, a UNRWA anunciou uma revisão completa e independente da organização, e o
Escritório de Serviços de Supervisão Interna da ONU foi ativado.
"A
retirada de fundos da UNRWA é perigosa e resultaria no colapso do sistema
humanitário em Gaza, com consequências humanitárias e de direitos humanos de
longo alcance no território palestino ocupado e em toda a região",
insistem.
"O
mundo não pode abandonar o povo de Gaza", completam.
Assinam a
declaração:
Martin
Griffiths,
Coordenador de Ajuda de Emergência e Subsecretário Geral para Assuntos
Humanitários (OCHA)
Jane
Backhurst,
Presidente do ICVA (Christian Aid)
Jamie
Munn,
Diretor Executivo, Conselho Internacional de Agências Voluntárias (ICVA)
Amy
E. Pope,
Diretora Geral, Organização Internacional para Migração (IOM)
Volker
Türk,
Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OHCHR)
Paula
Gaviria Betancur,
Relatora Especial das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos das Pessoas
Deslocadas Internamente
Achim
Steiner,
Administrador, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)
Natalia
Kanem,
Diretora Executiva do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA)
Filippo
Grandi,
Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados (UNHCR)
Michal
Mlynár,
Diretor Executivo do Programa de Assentamento Humano das Nações Unidas
(UN-Habitat)
Catherine
Russell,
Diretora Executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)
Sima
Bahous,
subsecretária-geral e diretora executiva da ONU Mulheres
Cindy
McCain,
diretora executiva do Programa Mundial de Alimentos (WFP)
Tedros
Adhanom Ghebreyesus,
diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS)
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