quinta-feira, 20 de abril de 2023

Roteiro de Estudo - Mesopotâmia

 Povos da Mesopotâmia:

1 - Sumérios

1.1 - Período: 4000a.C. - 2350 a.C.

1.2 - Cidades-Estado

1.2.1 - Independentes entre si

1.2.2 - Principais cidades: Ur, Uruk, Nipur e Lagash

1.2.3 - Guerras entre cidades-Estado pelo controle central do território

1.2.3.1 - Enfraquecimento das cidades-Estado

1.2.3.1.1 - Submissão aos Acádios

1.2.3.1.1.1 - Rei Sargão I - unificou politicamente o Centro e o Sul. "Soberano dos quatro cantos da Terra."

1.3 - Líder Político e Religioso

1.3.1 - Patesi

1.3.2 - Os Deuses eram considerados os proprietários de todas as terras.

1.4 - Empreendedores e criativos

1.4.1 - Invenção da escrita cuneiforme

1.4.2 - Construção de Zigurates

1.4.2.1 - Pirâmides de tijolos maciços que serviam de santuários e acesso dos deuses.

1.4.3 - Estabeleceu relações comerciais com vários povos da costa do Mediterrâneo e do Vale do Indo


2 - Acádios

2.1 - Povo de origem semita

2.2 - Ocupavam a região central da Mesopotâmia

2.3 - Rei Sargão I: unificou politicamente o Centro e o Sul da Mesopotâmia. "Soberano dos quatro cantos da Terra."

2.4 - Revoltas Internas e à continuação de invasões estrangeiras.


3 - Primeiro Império Babilônico (Amoritas/Amorritas)

3.1 - Invasão dos Amoritas

3.1.1 - Povo originário do Deserto da Arábia

3.1.2 - Cidade capital: Babilônia

3.2 - Principal governante: Rei Hamurábi

3.2.1 - Realizou a completa unificação da Mesopotâmia

3.2.2 - Transformou a cidade da Babilônia numa dos principais centros urbanos da Antiguidade

3.2.2.1 - Eixo cultural e econômico

3.2.3 - Código de Hamurábi

3.2.3.1 - Diversidade de procedimentos jurídicos

3.2.3.2 - Determinação de penas para vários crimes

3.2.3.3 - Princípio da Lei de Talião: "Olho por olho e dente por dente". 


4 - Império Assírio

4.1 - Período 1300 a. C. - 612 a.C.

4.2 - Fixaram-se no Norte da Mesopotâmia

4.3 - Cidade capital: Assur (principal divindade)

4.4 - Principais atividades econômicas

4.4.1 - Extração de madeira e minérios: cobre e o ferro

4.4.2 - Atividade agropastoris e à caça.

4.5 - Forte Estado militarizado

4.5.1 - Contando com cavalos, carros de guerra e armas de ferro.

4.5.2 - Armamento muito superior ao dos vizinhos.

4.5.3 - Conquistaram várias regiões vizinhas.

4.5.3.1 - Média Mesopotâmia e boa parte da Síria e da Palestina.

4.5.3.1.1 - Durante reinado de Sargão II conquistaram o reino de Israel

4.5.3.1.2 - Durante reinado de Tiglatfalasar tomaram a cidade da Babilônia

4.5.3.1.3 - Durante reinados de Senaqueribe e Assurbanipal atingiu o apogeu, dominando uma área que se estendia do golfo Pérsico à Ásia Menor e do Tigre até o Egito

4.5.3.2 - Política expansionista

4.5.4 - Ficaram conhecidos pela crueldade com os inimigos vencidos

4.6 - Reinado de Senaqueribe 

4.6.1 - Transformou a cidade de Nínive na capital

4.7 - Reinado de Assurbanipal

4.7.1 - Realizadas as últimas grandes conquistas - Egito

4.7.2 - Entusiasta da ciência e literatura

4.7.2.1 - Criação da biblioteca de Nínive - reuniu amplo acervo cultural de toda a região

4.8 - Após morte de Assurbanipal

4.8.1 - Declínio devido às revoltas dos povos dominados

4.8.1.1 - Rei dos Caldeus, Nabopolassar, com ajuda do Povo Medo destruíram Nínive e todo Império Assírio


5 - Segundo Império Babilônico (Caldeus)

5.1 - Período 612 a.C. - 539 a.C.

5.2 - Povo de origem semita

5.3 - Fizeram da Babilônia novamente a capital da Mesopotâmia

5.3.1 - Império maior que o de Hamurábi

5.4 - Reinado de Nabucodonosor

5.4.1 - Império viveu o seu apogeu

5.4.2 - Época das grandes construções públicas

5.4.2.1 - Templo de Marduk

5.4.2.2 - Grandes Muralhas e Palácios

5.4.2.2.1 - Jardins Suspensos da Babilônia

5.4.3 - Expansão do Império

5.4.3.1 - Dominando boa parte da Fenícia, Síria e Palestina

5.4.3.2 - Escravizando os habitantes do reino de Judá (Cativeiro da Babilônia)

5.4.4 - Após morte de Nabucodonosor

5.4.4.1 - Segundo Império Babilônico foi dominado pelo rei persa Ciro I, passando a pertencer ao Império Persa. 

domingo, 16 de abril de 2023

Texto Base - Mesopotâmia

 

https://ensin-e.edu.br/wp-content/uploads/2021/06/Zigurate-de-Ur-foto2.jpg

Civilizações da mesopotâmia

            Mesopotâmia — nome dado pelos gregos e que significa "terra entre dois rios" — compreendia os vales e planícies irrigados pelos rios Tigre e Eufrates, onde hoje é o território do Iraque e terras próximas. Inserida na área do desde os montes Zagros no Irã, a leste, até os desertos da Arábia, a oeste, contando com os rios que desciam das montanhas em direção ao golfo Pérsico.

        A parte norte, na Alta Mesopotâmia, era mais montanhosa, desértica e menos fértil, enquanto o centro e o sul do vale entre os rios Tigre e Eufrates, onde se encontram a Média e a Baixa Mesopotâmia; eram constituídas de planícies muito férteis. Descobertas arqueológicas revelam que a sedentarização das comunidades humanas na Média e Baixa Mesopotâmia ocorreu durante a transição do Paleolítico para o Neolítico, por volta de 10000 a.C., e não são poucos os especialistas que defendem a precedência das grandes organizações civilizadas da região a qualquer outra do mundo.

O surgimento dos primeiros grandes núcleos urbanos na região foi acompanhado do desenvolvimento de um complexo sistema hidráulico que favorecia a utilização dos pântanos, evitava inundações e garantia o armazenamento de água para os períodos de seca. Admite-se, frente ao sucesso do desenvolvimento das atividades produtivas mesopotâmicas, que perto de 4000 a.C. algumas cidades cresceram tanto a ponto de reunir mais de dez mil habitantes, a exemplo de Uruk. As cidades, além de viabilizarem a sobrevivência na região, propiciaram a defesa militar, a centralização da autoridade e do controle sobre a população. As mesmas muralhas que defendiam a cidade serviam também para o comando e domínio de toda a população urbana.

Observando o Egito e a Mesopotâmia, sobressaem algumas similaridades comuns às duas regiões, como a aridez do clima e a fertilidade favorecida pelos rios. Por outro lado, o acesso à Mesopotâmia por povos nômades era mais fácil que ao vale do Nilo. De certa forma, a imensidão do deserto que envolve o Egito serviu de proteção natural contra os invasores. Na Mesopotâmia, as invasões foram constantes e sucessivas, imprimindo uma marca diferenciada do seu desenvolvimento ao longo da Antiguidade.

            Além disso, em função do relevo que os envolve, os rios Tigre e Eufrates correm de noroeste para sudeste, num sentido oposto ao do rio Nilo, sendo as enchentes da Mesopotâmia muito mais violentas e sem a uniformidade e a regularidade apresentadas por ele.

 

Sumerianos e acadianos (antes de 2000 a.C.)

No final do período Neolítico, os povos sumerianos, vindos do planalto do Irã, fixaram-se na Caldéia (Média e Baixa Mesopotâmia) e fundaram diversas cidades autônomas, verdadeiros estados independentes, como Ur, Uruk, Nipur e Lagash. Cada uma delas era governada por um patesi, supremo-sacerdote e chefe militar absoluto. Acompanhado dos sacerdotes e burocratas, o patesi controlava a construção de diques, canais de irrigação, templos e celeiros, impondo e administrando os tributos a que toda a população estava sujeita.

            Os deuses eram considerados os proprietários de todas as terras, a quem os homens sempre deviam servir, sendo as cidades suas moradas terrenas. Junto aos templos das cidades, homenageando o seu deus patrono, não raramente eram erigidos zigurates, pirâmides de tijolos maciços que serviam de santuários e acesso dos deuses quando desciam até seu povo. Diversamente do Egito, os governantes mesopotâmicos, salvo raras exceções e mesmo assim só depois de mortos, não eram tidos como deuses e sim seus intermediários e representantes.

Empreendedores e criativos, os sumérios estabeleceram relações comerciais com vários povos da costa do Mediterrâneo e do vale do Indo. Inventaram a escrita cuneiforme (caracteres em forma de cunha) que foi utilizada por todas as civilizações da Mesopotâmia e povos vizinhos. Enquanto as cidades-estados sumerianas viviam constantemente em guerra pela supremacia na região, produzindo hegemonias sucessivas, os acadianos, povos de origem semita, ocupavam a região central da Mesopotâmia. Por volta de 2300 a.C., o rei acadiano Sargão I, unificou politicamente o centro e o sul da Mesopotâmia, dominando os sumerianos, tornando-se conhecido como o "soberano dos quatro cantos da terra". Ao mesmo tempo, o Império Acadiano incorporou a cultura sumeriana, com destaque para os registros da nova língua semítica em caracteres cuneiformes.

Devido às diversas revoltas internas e à continuação de invasões estrangeiras, o Império Acadiano acabou se enfraquecendo e desapareceu — isto ao redor de 2 100 a.C. — permitindo o breve reerguimento de algumas das cidades-estados sumerianas, como Ur.

 

O primeiro Império Babilônico (2000 a.C. – 1750 a.C.)

Amoritas/Amorritas

            Entre os invasores que destruíram o Império Acadiano destacam-se os amoritas. Vindos do deserto da Arábia, impuseram seu domínio na Mesopotâmia, partindo de sua cidade principal chamada Babilônia. As disputas entre ela e as demais cidades-estados, mesopotâmicas, além de outras ondas invasoras, resultaram numa luta quase ininterrupta até o início do século XVIII a.C. quando deHamurábi, rei da Babilônia, realizou a completa unificação, conseguindo dominar toda a região, desde a Assíria, na Alta Mesopotâmia, até a Caldéia, no sul, fundando o Primeiro  Império Babilônico.

Rapidamente, a capital babilônica transformou-se num dos principais centros urbanos da Antiguidade, sediando um poderoso império e convertendo-se no eixo cultural e econômico da região do Crescente Fértil. Hamurábi também elaborou o primeiro código de leis completo de que se tem notícia, assentado nas antigas tradições sumerianas.

            O Código de Hamurábi apresenta uma diversidade de procedimentos jurídicos e determinação de penas para uma vasta gama de crimes, partindo, a maior parte delas, do princípio "olho por olho, dente por dente". O Código de Hamurábi decorria da Lei de Talião que preconizava que as punições fossem idênticas ao delito cometido.

            O Código abarca praticamente todos os aspectos da vida babilônica, passando pelo comércio, propriedade, herança, direitos da mulher, família, adultério, falsas acusações e escravidão. As punições variavam de acordo com a posição social da vítima e do infrator.

Hamurábi também empreendeu uma ampla reforma religiosa, transformando o deus Marduk, da Babilônia, no principal deus da Mesopotâmia, mesmo mantendo as antigas divindades. A Marduk foi levantado um templo junto ao qual foi erguido o zigurate de Babel, citado pelo Livro do Gênesis (Bíblia) como uma torre para se chegar ao céu.

Após a morte de Hamurábi, o império entrou em decadência principalmente por causa das rebeliões internas e novas ondas de invasões, como a dos hititas e a dos cassitas. A desorganização do Império Babilônico promoveu o surgimento de vários reinos menores rivais, propiciando a ascensão dos assírios, a partir de 1300 a.C.

 

O império Assírio (1300 a.C. – 612 a.C.)

Os assírios fixaram-se no norte da Mesopotâmia por volta de 2500 a.C., fazendo da cidade de Assur — nome de sua principal divindade — a sua capital. Ocupavam as margens do rio Tigre e as montanhas próximas, onde era abundante a madeira e várias riquezas minerais, como o cobre e o ferro, sobrevivendo graças às atividades agropastoris e à caça. Aos poucos, edificaram um forte Estado militarizado, contando com cavalos, carros de guerra e armas de ferro; armamentos bem superiores aos dos vizinhos, os quais foram submetidos ao seu domínio. Nesse primeiro avanço expansionista, os assírios conquistaram várias regiões vizinhas, incluindo a Média Mesopotâmia e boa parte da Síria e da Palestina.

            O predomínio social entre os assírios cabia a uma aristocracia sacerdotal e militar que sujeitava toda a massa camponesa, a qual era obrigada ao pagamento de tributos em cereais, metais, gado e a prestar serviços gratuitos ao Estado. Com a crescente expansão e militarização da sociedade assíria, a produção e os serviços públicos acabaram ficando a cargo das populações vencidas, transformadas em escravos, e grande parte dos lavradores, e artesãos assírios passou a compor o exército.

Os assírios ficaram famosos pela crueldade com que tratavam os vencidos, não sendo raro o esfolamento vivo nas pedras. Cortavam orelhas, órgãos genitais e narizes daqueles que ousassem ameaçar seu domínio, buscando a total intimidação dos conquistados. Durante o reinado de Sargão II, os assírios conquistaram o reino de Israel e, no de Tiglatfalasar, tomaram a cidade da Babilônia. Durante o século VII a.C., sobretudo nos reinados de Senaqueribe (705 a.C. - 681 a.C.) e de Assurbanipal (668 a.C. - 631 a.C.), o Império Assírio atingiu seu apogeu, dominando uma área que se estendia do golfo Pérsico à Asia Menor e do Tigre até o Egito.

Com Senaqueribe, a capital foi transferida de Assur para Nínive e, sob Assurbanipal foram realizadas as últimas grandes conquistas assírias, incluindo a do Egito. Assurbanipal, além de grande guerreiro, era um entusiasta da ciência e literatura, o que explica a criação de uma grande biblioteca na nova capital assíria. A Biblioteca de Nínive reuniu um amplo acervo cultural de toda a região, formada por dezenas de milhares de tijolos de argila.

Após a morte de Assurbanipal (631 a.C.), o Império Assírio declinou rapidamente, graças às revoltas dos povos dominados, sucumbindo definitivamente em 612 a.C. Nesta data, Nabopolassar, rei dos caldeus, e com ajuda dos medos, seus vizinhos, destruíram Nínive e todo o Império Assírio, inaugurando o Segundo Império Babilônico.

 

O segundo império babilônico (612 a.c. – 539 a.c.)

Caldeus

            Os caldeus, povo de origem semita, derrotaram os assírios e fizeram da Babilônia novamente a capital da Mesopotâmia. Assim nasceu o Império Neobabilônico, mais grandioso que o de Hamurábi, e mais de mil anos depois.

Durante o reinado de Nabucodonosor (604 a.C. - 561 a.C.), o Segundo Império Babilônico viveu o seu apogeu. Foi a época das grandes construções públicas, como os templos para vários deuses, especialmente o de Marduk, as grandes muralhas da cidade e os palácios, a exemplo dos "Jardins Suspensos da uma das maiores "maravilhas do mundo"

Nabucodonosor também expandiu seu império, dominando boa parte da Fenícia, Síria e Palestina, e escravizando os habitantes do reino de Judá, que foram transferidos como escravos para a capital ("Cativeiro da Babilônia").

            O Segundo Império Babilônico não sobreviveu por muito tempo à morte de Nabucodonosor, sendo conquistado em 539 a.C. pelo rei persa Ciro l. A partir daí, a Mesopotâmia e seus domínios passaram a pertencer ao Império Persa.

 

Economia, Sociedade e cultura

            A estrutura produtiva mesopotâmica, tal como a do Egito, inseria-se no modo de produção asiático, tendo a agricultura como atividade principal e a população submetida ao sistema de servidão coletiva. A unidade econômica da cidade-estado ou do império dependia do templo, eixo da religião, e dos sacerdotes, que atuavam como elo de ligação entre a população e a autoridade política, o patesi ou o imperador. Como as terras pertenciam aos deuses, os seus representantes (políticos e religiosos) administravam essas terras e dominavam camponeses, artesãos (padeiros, oleiros, tecelões, ferreiros etc.), soldados e serviçais menores, obrigados a produzir, defender e a trabalhar nas obras públicas.

Uma aristocracia de governantes, sacerdotes e funcionários públicos, através do Estado, controlava a construção de reservatórios de água, diques, canais de irrigação, estradas e depósitos de alimentos, além de impor tributos sobre quase tudo o que era produzido. Também contava com a mão-de-obra escrava, constituída dos vencidos nas guerras. Nos celeiros públicos, conhecidos os estoques, definia-se o critério de distribuição dos excedentes agrícolas obtidos da população.

O artesanato e o comércio mesopotâmicos atingiram muito desenvolvimento, com seus negociantes organizando caravanas que iam da Arábia à Índia, buscando ou levando produtos, como lã, tecidos, cevada e minerais, entre outras mercadorias. Quando utilizavam os rios Tigre e Eufrates ou o mar, alcançado através do golfo Pérsico, frequentemente contavam com navios tripulados por marinheiros fenícios. A intensidade das atividades econômicas da Mesopotâmia chegou a transformar muitas de suas cidades em grandes entrepostos comerciais, destacando-se, especialmente, a Babilônia.

A estrutura social mesopotâmica também assemelhava-se à do Egito, tendo no topo uma pequena elite poderosa, concentradora de privilégios e da força, sustentada pela esmagadora maioria da população submetida à servidão imposta por um governo despótico e teocrático. A cultura mesopotâmica descendia, em grande parte, dos sumérios, destacando-se especialmente a escrita cuneiforme.

A religião mesopotâmica, de herança sumeriana e ampliada por seus sucessores, tinha inúmeros deuses que representavam fenômenos da natureza (atualmente são conhecidos cerca de três mil) e era vista como meio de obter recompensas terrenas imediatas, pois, ao contrário dos egípcios, os mesopotâmicos não acreditavam na vida após a morte. Mesmo assim, na Assíria e na Babilônia, a religião evoluiu para a crença de que os mortos deveriam receber boas sepulturas, para nunca abandonarem seu mundo de sombras. Do contrário, eles achavam que a a:ma não encontraria paz e ficaria vagando pela terra e sofrendo eternamente e provocando desgraças. Para alcançar as vantagens os mesopotâmicos submetiam-se aos rituais religiosos, comandados pelos sacerdotes, os quais faziam dos templos o centro de toda religiosidade. Estes templos podiam abrigar também o celeiro e as oficinas, integrando, inclusive, a torre do zigurate.

Os mesopotâmicos sobressaíram-se nas ciências, na arquitetura e na literatura. Observando o céu, especialmente a partir de suas torres e buscando decifrar a vontade dos deuses, os sacerdotes desenvolveram a astrologia e a astronomia, conseguindo atingir um amplo conhecimento sobre fenômenos celestes, como o movimento de planetas e estrelas e a previsão de eclipses.

Aprimorando os conhecimentos de astronomia, avançaram no domínio da matemática que também servia às necessidades da vida econômica. Foram os inventores da álgebra, desenvolvendo cálculos de divisão e multiplicação, incluindo a criação da raiz quadrada e da raiz cúbica. Também dividiram o círculo em 360 graus e criaram um calendário com o ano de doze meses, divididos em semanas de sete dias e estes, em períodos de doze horas.

Na arquitetura, os mesopotâmicos foram inovadores com a aplicação de arcos; na escultura e pintura, enfatizaram a estatuária e elaboração dos baixos-relevos com sentido decorativo, especialmente para templos e palácios.

            Na literatura, constituída principalmente de poemas e narrativas épicas, destacam-se duas obras sumerianas, a Epopéia de Gilgamés, a mais antiga narrativa sobre o dilúvio, e o Mito da Criação.

Na primeira, Gilgamés é apresentado como rei de Uruk que busca a imortalidade, acompanhado em suas aventuras por Enkidu. Em uma de suas passagens, o poema assemelha-se intensamente à posterior descrição do dilúvio no Antigo Testamento, não deixando dúvida de que os autores do Gênesis ali se inspiraram. No poema sumério, o herói é Utanapishtim, enquanto no Gênesis, é Noé:

"Quando chegou o sétimo dia, soltei um

[pombo.

O pombo partiu, mas regressou em

[seguida;

deu um voo curto pois não encontrou

[lugar seguro para pousar.

Depois soltei uma andorinha.

A andorinha partiu, mas logo regressou.

Mandei soltar um corvo que,

vendo que as águas tinham descido,

come, descreve um círculo e não

[regressa.


Já o Mito da Criação, narra a origem do mundo através do mito do Marduk, deus da Babilônia, que criara o céu e a terra, os astros e o homem para servir aos deuses. Vale destacar também, como grande marco da história do Direito, o Código de Hamurábi.

 

 

 

Vicentino, Cláudio. História Geral. ed. atual. e ampl.. São Paulo. Scipione, 1997.



sábado, 15 de abril de 2023

ROTEIRO DE ESTUDO - RENASCIMENTO CULTURAL E REFORMA RELIGIOSA


Roteiro de Estudo - Renascimento Cultural e Reforma Religiosa 


Egito Antigo

https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1scara_mortu%C3%A1ria_de_Tutanc%C3%A2mon#/media/Ficheiro:TUT-Ausstellung_FFM_2012_47_(7117819557).jpg
 A Civilização Egípcia

Entre as primeiras civilizações orientais pertencentes ao modo de produção asiático, baseadas na servidão coletiva, a egípcia sobressaiu-se como uma das mais grandiosas e a mais duradoura. Marcada pelas grandes obras hidráulicas (canais de irrigação, diques), fundamentais para a agricultura, a civilização egípcia contava com um Estado despótico que controlava a estrutura socioeconômica e administrativa, graças às instituições burocráticas, militares, culturais e religiosas que controlavam e subordinavam toda a população.

Situada no nordeste da África, numa região predominantemente desértica, a civilização egípcia desenvolveu-se no fértil vale do Nilo, beneficiando-se do seu regime de cheias. As abundantes chuvas que caem durante certos meses na nascente do rio, ao sul do território egípcio (atual Sudão), provocam o transbordamento de suas águas. Essas cheias, ao ocuparem as margens do rio, depositam ali o húmus fertilizante. Quando termina o período chuvoso e o rio volta ao seu leito normal, as margens ficam prontas para uma agricultura farta.

Este quadro natural favoreceu o surgimento das primeiras aldeias neolíticas no vale do Nilo, constituindo-se os nomos, comunidades autônomas que desenvolviam uma agricultura rudimentar e eram chefiadas pelos nomarcas. O crescimento da população e o aprimoramento agrícola logo possibilitaram o nascimento das primeiras cidades cujos habitantes foram aperfeiçoando as técnicas de irrigação e, simultaneamente, uma cultura de características singulares, a exemplo da escrita hieroglífica e do calendário solar.

Para agregar esforços na construção de diques e canais de irrigação, deu-se a reunião dos nomos, originando a formação de dois reinos, o reino do Alto Egito, localizado ao sul do Nilo, e o do Baixo Egito, ao norte, por volta de 3500 a.C. Em 3200 a.C., Menés, governante do Alto Egito, impôs a unificação dos reinos, tornando-se o primeiro faraó, subordinando 42 nomos. Os nomarcas, convertidos em representantes do poder central nessas comunidades, administravam diversas aldeias e pequenas cidades, cuidando da coleta dos impostos e da aplicação das determinações estabelecidas pelo faraó.

Com a unificação, iniciou-se o chamado período dinástico da história egípcia. O faraó adquiriu o papel de supremo mandatário, concentrando todos os poderes em suas mãos e apropriando-se de todas as terras; a população deveria pagar tributos a ele e servi-lo. Reforçando seu poder, o faraó encarnava também o elemento religioso, passando a ser considerado um deus vivo, sendo cultuado como tal. Daí chamarmos monarquia teocrático o regime político do Egito Antigo.

O Antigo Império (3200 a.C. – 2300 a.C.)

Com a unidade política criada por Menés, a capital do Egito passou a ser a cidade de Tinis e, mais tarde, foi transferida para a cidade de Mênfis, atual Cairo.

A maior parte da população trabalhava na agricultura e, não raramente, era convocada para trabalhar nos grandes projetos arquitetônicos, como as pirâmides, os templos funerários, destinados ao faraó e sua família. Depois de 2780 a.C., foram erguidas as grandes pirâmides de Gizé, túmulos dos faraós da quarta dinastia egípcia: Quéops, Quéfren e Miquerinos.

Depois de longa estabilidade política e social, o Egito, a partir de 2300 a.C., conheceu um período de enfraquecimento do poder central e um consequente fortalecimento dos nomarcas, ocasionando a descentralização política conhecida por período feudal egípcio. Foi uma época de acirradas lutas entre os nomarcas e de inúmeras revoltas sociais, o que resultou em profundas crises decorrentes da desorganização da produção.

O Médio Império (2000 a.C. – 1580 a.C.)

Perto do século XX a.C., teve início uma luta contra os nomarcas, que, progressivamente, acabou restabelecendo o poder do faraó e a unidade do império. A cidade de foi Tebas transformou-se na nova capital, sendo que os novos faraós, especialmente os da XII dinastia, abriram um novo período de prosperidade contando com a vassalagem geral da sociedade, submetida pelo poder central.

O dinamismo do período deveu-se às novas obras de irrigação, ampliando as áreas agrícolas e produtivas, e à construção de grandes tumbas e templos. Tal foi o desenvolvimento que as artes e a literatura egípcia desta época transformaram-se em modelos áureos e fontes de interesse para as gerações posteriores.

Contudo, os vários levantes empreendidos pelos nobres que reivindicavam maior autonomia, acompanhados de rebeliões camponesas estimuladas pela penúria popular, minaram o poder central egípcio. Perto de 1 800 a.C., agravando ainda mais o quadro geral, teve início uma onda de invasões estrangeiras, com hebreus e, principalmente, hicsos, estabelecendo domínios na região.

Os hicsos, povos de origem asiática, usavam cavalos, carros de guerra e armas feitas de ferro, equipamentos que até então eram desconhecidos no vale do Nilo. Esses recursos permitiram aos invasores isolar os faraós em Tebas e exercer um completo domínio sobre a tributação, controlando o país por quase dois séculos.

O Novo Império (1580 a.C. – 525 a.C.)

A dominação dos hicsos uniu os egípcios, despertando um forte sentimento militarista entre eles, que, a partir de Tebas e sob a liderança de Amósis I, conseguiram expulsar os invasores, em 1580 a.C. Após a expulsão dos hicsos, os hebreus, também invasores de origem asiática, foram dominados e escravizados. Perto de 1250 a.C., os hebreus conseguiram deixar a região, sob o comando de Moisés, no chamado Êxodo. Assim, a unidade territorial e política foi restabelecida e Tebas retomou a posição de capital, dando início ao Novo Império, período de apogeu da civilização egípcia.

A força do Novo Império tratou de ampliar as fronteiras imperiais, destacando-se os faraós Tutmés III e Ramsés II, bem como o reformador religioso, Amenófis IV.

Sob o governo de Tutmés III (1480 a.C.  1448 a.C.), o império alcançou a sua maior expansão territorial, estendendo-se da quarta catarata do rio Nilo, ao sul, até o rio Eufrates na Asia, ao norte, subjugando os sírios, os fenícios e outros povos. Tal extensão territorial, assegurada pelas conquistas, fez do Egito o primeiro império mundial. A força militar do faraó era formada pela infantaria, armada de arcos, setas e lanças, e pela cavalaria, equipada com carros. Dispunha também de uma esquadra composta de galeras a remo e barcos a vela.

Já o faraó Amenófis IV (1377 a.C. - 1358 a.C.), conhecido como o rei herético, procedeu uma revolução religiosa, tentando pôr fim ao culto politeísta. Tida pelo faraó como uma doutrina ultrapassada e conservadora, a religião egípcia cultuava várias divindades (tendo Amon-Ra, o sol, como a mais importante) e concedia amplos poderes aos sacerdotes.

Há muito que o aumento constante da riqueza e da ingerência política dos sacerdotes de Amon ameaçavam a autoridade do governo central. Bem antes de Amenófis IV, já havia começado a ganhar adeptos na corte uma nova forma de culto solar, de influência asiática, em que todos se dirigiam ao próprio disco visível do sol. Pouco a pouco, o novo culto evoluiu de uma tímida religiosidade com conotações políticas para, no tempo de Amenófis IV, transformar-se no foco de uma crise político-religiosa sem precedentes.

Amenófis IV buscou mudar esse quadro, estabelecendo o culto monoteísta a Aton, o círculo solar, confiscando bens dos sacerdotes e excluindo os demais deuses. O próprio faraó mudou o seu nome, que recordava Amon (Amenófis, na realidade Amen-hotep = ' 'Amon está satisfeito"), para Akhenaton (Ech-n-Aton = ''Aquele que agrada a Aton"), e fundou uma nova capital, Akhetaton (= horizonte do disco solar"), situada a pouco mais de 30 quilômetros de Tebas.

Os casamentos sucessivos de Amenófis IV não resultaram num esperado herdeiro, o que favoreceu o retorno do poderio dos sacerdotes e do culto politeísta tradicional. Nem sua esposa principal, a bela Nefertiti, que lhe deu várias filhas, nem o casamento com algumas de suas filhas, puderam resultar num varão que garantisse a sucessão.

Aproveitando-se dessa fragilidade, os sacerdotes depuseram Amenófis IV e outorgaram a Tutankhamon ("Aquele que vive em Amon"), genro de Amenófis, o título de faraó, ratificando a força do Estado egípcio.

O prosseguimento das conquistas militares deu-se no governo do faraó Ramsés II (1292 a.C. - 1225 a.C.), que enfrentou e venceu vários povos asiáticos, como os hititas, na batalha de Kadesh. Foram quinze anos de enfrentamentos, até que, em 1272 a.C., egípcios e hititas assinaram um acordo de paz, o mais antigo que se conhece na história.

Na busca da máxima exaltação de seu poder, Ramsés II, que reinou por mais de setenta anos e teve 59 filhas e 79 filhos, chegou a desfigurar o rosto das estátuas do templo de Luxor e escrever nelas o seu próprio nome, inaugurando a prática de uma revisão e adulteração da história, que caracterizou muitos outros governantes ao longo da história humana.

O poderio e o esplendor alcançados no Novo Império eram evidenciados não apenas pelas conquistas militares, como também pelas manifestações culturais, a exemplo da construção dos templos de Karnac e Luxor, iniciados ainda no Médio Império e ampliados por outros faraós.

Contudo, depois de Ramsés II, foram poucos os períodos de estabilidade e unidade sob o comando do governo central; assim, iniciou-se a fase de declínio da civilização egípcia. Entre as várias razões para essa decadência destacaram-se as disputas políticas que envolviam as autoridades sacerdotais, que, em alguns momentos, chegaram a constituir um Estado dentro do Estado, sob o comando do sumo-sacerdote, não raramente ignorando o poder do faraó.

Outra razão era o próprio exército, que, formado em grande parte por mercenários estrangeiros, acabou dispersado por interesses estranhos a uma obediência hierárquica, determinando a quebra do poder estatal.

Desprotegido militarmente, o Egito foi perdendo pouco a pouco suas antigas conquistas e seus domínios orientais.

Após 1100 a.C., o Egito voltou a se dividir, passando a ter governantes autônomos e rivais no Alto e no Baixo Egito, fragilizando-se e facilitando o avanço de conquistadores vizinhos. Dentre estes, destacaram-se os assírios, que, em 662 a.C., sob o comando de Assurbanipal, conquistaram a região. Os egípcios, porém, resistiram à dominação assíria e o faraó Psamético I (655 a.C. - 610 a.C.) obteve a libertação da nação, iniciando um intenso florescimento econômico e cultural.

No período denominado renascimento saíta, pois Sais havia se transformado na nova capital, o Egito recuperou alguns territórios e uma forte unidade. Foi nessa fase, como descreve o historiador grego Heródoto, que o faraó Necao intensificou o comércio com a Ásia e financiou o navegador fenício Hamon numa viagem que contornou toda a costa africana. O navegador partiu do mar Vermelho, desceu pelo oceano Indico, cruzou o sul da África, voltando a dirigir-se ao norte já no oceano Atlântico e, depois de três anos, estava de volta ao Egito pelo mar Mediterrâneo.

Depois de Necao, as disputas políticas envolvendo burocratas, sacerdotes e militares ganharam intensidade e descontrole, e somadas às rebeliões camponesas, enfraqueceram definitivamente o império. As invasões tornaram-se cada vez mais frequentes e bem-sucedidas, até que, em 525 a.C., os persas, comandados pelo rei Cambises, conquistaram o Egito na batalha de Pelusa, destronando o faraó Psamético III.

Transformado pelos conquistadores em uma província do Império Persa, o Egito foi vítima, posteriormente, de outras dominações, como a dos gregos, macedônios, romanos, árabes, turcos e ingleses, recuperando sua autonomia política somente no século XX.

Durante o domínio romano teve 'início a penetração do cristianismo na região e, mais tarde, com a ocupação árabe, do islamismo, religiões que ajudaram a demolir o que restava da antiga cultura egípcia que durara perto de três milênios. Além dos exemplos arqueológicos, como as pirâmides e templos, chegaram até nós também resquícios de sua língua, ironicamente, através dos cultos da igreja cristã do Egito, ou copta.

Economia, sociedade e cultura no Egito antigo

No antigo Egito, a organização das atividades produtivas era uma atribuição do Estado, detentor da maioria das terras férteis. Cabia à população camponesa, subjugada ao poder do faraó, pagar impostos sob a forma de produtos ou trabalho, constituindo o que se denomina servidão coletiva. Dessa forma, o Estado apropriava-se dos excedentes da produção, utilizando mão-de-obra gratuita para construir depósitos de armazenagem e uma ampla burocracia estatal para cobrar impostos. Mesmo as poucas propriedades privadas que existiram no Egito antigo também sofriam um controle do Estado.

Na época das cheias do Nilo, quando a atividade agrícola era suspensa, os trabalhadores eram geralmente requisitados pelo Estado para trabalhar nas obras de construção de diques, canais de irrigação, templos, palácios etc.

Na produção agrícola destacavam-se, entre outros itens, o trigo, a cevada, o algodão, o papiro, o linho, e, na criação de animais, cabras, carneiros e gansos, além da intensa pesca no rio Nilo. Também foram desenvolvidas várias atividades artesanais, bem como a produção de tecidos e vidros e a construção de navios.

A partir dessa base econômica, a sociedade egípcia estruturava-se da seguinte forma: acima de todos achava-se o faraó e sua ampla família; logo abaixo na escala hierárquica vinha a aristocracia privilegiada constituída por sacerdotes, funcionários do Estado (burocratas e militares) e nobres, descendentes das grandes famílias dirigentes dos nomos. Entre os burocratas destacavam-se os escribas, funcionários responsáveis pela contabilidade e supervisão da organização administrativa. Na base da sociedade egípcia, estava a ampla massa camponesa e o grupo não muito numeroso dos escravos, os quais, quase sempre, eram prisioneiros de guerra. A sujeição dos camponeses era conseguida graças à repressão e às características da cultura egípcia, na qual a religião, largamente difundida, promovia a preservação da ordem existente.

A religião politeísta foi o elemento cultural mais atuante no Egito antigo, constituída por uma centena de deuses, alguns em forma de animais, como vacas, touros, crocodilos, serpentes, gatos etc. A diversidade de divindades remontava às origens das aldeias e dos nomos do período pré-dinástico, com seus cultos locais, depois agrupados e remodelados numa religião nacional. De todas as divindades egípcias, sobressaía-se Amon-Ra (sol), especialmente fortalecido no Novo Império, após a tentativa frustrada de reforma religiosa de Amenófis IV. Outras divindades importantes eram Osíris, Isis, Set, Hórus, Anúbis e Apis.

Da mesma forma como as cheias sucediam às vazantes, o dia à noite, os egípcios acreditavam que o mesmo acontecia com a vida, a qual sucedia à morte. As vezes, imaginavam o morto voltando à vida na própria tumba, considerada como uma "casa de eternidade", de onde só poderia escapar temporariamente assumindo a forma de pássaro. Outras vezes, depois de renascido, o indivíduo navegava na barca solar ou então passava pelo julgamento do deus Osíris, depois do qual, se não fosse condenado por seus feitos, iria viver num outro mundo melhor.

Para que o corpo pudesse voltar a abrigar a alma, desenvolveu-se o culto aos mortos e a técnica de mumificação de cadáveres, um conhecimento controlado pelos sacerdotes. No início, a mumificação era uma exclusividade do faraó, progressivamente estendida a todos aqueles que pudessem pagar as elevadas despesas da mumificação.

A técnica da mumificação foi tão desenvolvida no Egito que permitiu apurado conhecimento de anatomia humana, favorecendo o desenvolvimento da medicina e o surgimento de especialistas em várias áreas, como para doenças do estômago, do coração ou fraturas. Não eram raras, no Egito antigo, as bem-sucedidas intervenções cirúrgicas cranianas. O ensino, especialmente o mais aprofundado, aquele que se assemelharia ao curso superior na atualidade, visava manter as classes dirigentes da sociedade, com seus profissionais, sábios e eruditos.

A medicina, a arquitetura e a engenharia foram utilizadas e estimuladas pelo poder central — tanto pelo faraó, quanto pelos sacerdotes. Também foram incorporadas as demais áreas refinadas do saber, cujos técnicos e artistas atuavam como verdadeiros funcionários do Estado. Do desenvolvimento da astronomia egípcia nasceu um calendário solar composto de doze meses, cada um com trinta dias. E, para o desenvolvimento da engenharia e da arquitetura, além das obras hidráulicas, como diques e canais, a construção de templos e pirâmides foi de fundamental importância.

Quase sempre voltada para os deuses, para o faraó e para a corte, a pintura egípcia distinguia-se pela ausência de perspectiva e a escultura, muitas vezes monumental, pela rigidez. Na literatura, cultivava-se a poesia, a filosofia e a medicina, destacando-se o ' 'Hino ao Sol", feito por Amenófis IV.

O Egito antigo desenvolveu três tipos de escrita: a sagrada, chamada escrita hieroglífica, inventada no período pré-dinástico, e que possuía mais de seiscentos sinais; a hierática, mais usada para documentos e era uma forma mais simples e derivada da anterior; e a demótica, a popular, nascida bem mais tarde e é uma simplificação da hierática com cerca de 350 sinais.

A decifração destas escritas coube ao francês Champollion, que utilizou uma pedra encontrada na região de Roseta por um soldado de Napoleão Bonaparte, em 1799. Com seus trabalhos iniciou-se a egiptologia, produzindo conhecimentos cada vez mais aprofundados do Egito antigo.


Vicentino, Cláudio. História Geral. ed. atual. e ampl.. São Paulo. Scipione, 1997.