domingo, 16 de abril de 2023

Texto Base - Mesopotâmia

 

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Civilizações da mesopotâmia

            Mesopotâmia — nome dado pelos gregos e que significa "terra entre dois rios" — compreendia os vales e planícies irrigados pelos rios Tigre e Eufrates, onde hoje é o território do Iraque e terras próximas. Inserida na área do desde os montes Zagros no Irã, a leste, até os desertos da Arábia, a oeste, contando com os rios que desciam das montanhas em direção ao golfo Pérsico.

        A parte norte, na Alta Mesopotâmia, era mais montanhosa, desértica e menos fértil, enquanto o centro e o sul do vale entre os rios Tigre e Eufrates, onde se encontram a Média e a Baixa Mesopotâmia; eram constituídas de planícies muito férteis. Descobertas arqueológicas revelam que a sedentarização das comunidades humanas na Média e Baixa Mesopotâmia ocorreu durante a transição do Paleolítico para o Neolítico, por volta de 10000 a.C., e não são poucos os especialistas que defendem a precedência das grandes organizações civilizadas da região a qualquer outra do mundo.

O surgimento dos primeiros grandes núcleos urbanos na região foi acompanhado do desenvolvimento de um complexo sistema hidráulico que favorecia a utilização dos pântanos, evitava inundações e garantia o armazenamento de água para os períodos de seca. Admite-se, frente ao sucesso do desenvolvimento das atividades produtivas mesopotâmicas, que perto de 4000 a.C. algumas cidades cresceram tanto a ponto de reunir mais de dez mil habitantes, a exemplo de Uruk. As cidades, além de viabilizarem a sobrevivência na região, propiciaram a defesa militar, a centralização da autoridade e do controle sobre a população. As mesmas muralhas que defendiam a cidade serviam também para o comando e domínio de toda a população urbana.

Observando o Egito e a Mesopotâmia, sobressaem algumas similaridades comuns às duas regiões, como a aridez do clima e a fertilidade favorecida pelos rios. Por outro lado, o acesso à Mesopotâmia por povos nômades era mais fácil que ao vale do Nilo. De certa forma, a imensidão do deserto que envolve o Egito serviu de proteção natural contra os invasores. Na Mesopotâmia, as invasões foram constantes e sucessivas, imprimindo uma marca diferenciada do seu desenvolvimento ao longo da Antiguidade.

            Além disso, em função do relevo que os envolve, os rios Tigre e Eufrates correm de noroeste para sudeste, num sentido oposto ao do rio Nilo, sendo as enchentes da Mesopotâmia muito mais violentas e sem a uniformidade e a regularidade apresentadas por ele.

 

Sumerianos e acadianos (antes de 2000 a.C.)

No final do período Neolítico, os povos sumerianos, vindos do planalto do Irã, fixaram-se na Caldéia (Média e Baixa Mesopotâmia) e fundaram diversas cidades autônomas, verdadeiros estados independentes, como Ur, Uruk, Nipur e Lagash. Cada uma delas era governada por um patesi, supremo-sacerdote e chefe militar absoluto. Acompanhado dos sacerdotes e burocratas, o patesi controlava a construção de diques, canais de irrigação, templos e celeiros, impondo e administrando os tributos a que toda a população estava sujeita.

            Os deuses eram considerados os proprietários de todas as terras, a quem os homens sempre deviam servir, sendo as cidades suas moradas terrenas. Junto aos templos das cidades, homenageando o seu deus patrono, não raramente eram erigidos zigurates, pirâmides de tijolos maciços que serviam de santuários e acesso dos deuses quando desciam até seu povo. Diversamente do Egito, os governantes mesopotâmicos, salvo raras exceções e mesmo assim só depois de mortos, não eram tidos como deuses e sim seus intermediários e representantes.

Empreendedores e criativos, os sumérios estabeleceram relações comerciais com vários povos da costa do Mediterrâneo e do vale do Indo. Inventaram a escrita cuneiforme (caracteres em forma de cunha) que foi utilizada por todas as civilizações da Mesopotâmia e povos vizinhos. Enquanto as cidades-estados sumerianas viviam constantemente em guerra pela supremacia na região, produzindo hegemonias sucessivas, os acadianos, povos de origem semita, ocupavam a região central da Mesopotâmia. Por volta de 2300 a.C., o rei acadiano Sargão I, unificou politicamente o centro e o sul da Mesopotâmia, dominando os sumerianos, tornando-se conhecido como o "soberano dos quatro cantos da terra". Ao mesmo tempo, o Império Acadiano incorporou a cultura sumeriana, com destaque para os registros da nova língua semítica em caracteres cuneiformes.

Devido às diversas revoltas internas e à continuação de invasões estrangeiras, o Império Acadiano acabou se enfraquecendo e desapareceu — isto ao redor de 2 100 a.C. — permitindo o breve reerguimento de algumas das cidades-estados sumerianas, como Ur.

 

O primeiro Império Babilônico (2000 a.C. – 1750 a.C.)

Amoritas/Amorritas

            Entre os invasores que destruíram o Império Acadiano destacam-se os amoritas. Vindos do deserto da Arábia, impuseram seu domínio na Mesopotâmia, partindo de sua cidade principal chamada Babilônia. As disputas entre ela e as demais cidades-estados, mesopotâmicas, além de outras ondas invasoras, resultaram numa luta quase ininterrupta até o início do século XVIII a.C. quando deHamurábi, rei da Babilônia, realizou a completa unificação, conseguindo dominar toda a região, desde a Assíria, na Alta Mesopotâmia, até a Caldéia, no sul, fundando o Primeiro  Império Babilônico.

Rapidamente, a capital babilônica transformou-se num dos principais centros urbanos da Antiguidade, sediando um poderoso império e convertendo-se no eixo cultural e econômico da região do Crescente Fértil. Hamurábi também elaborou o primeiro código de leis completo de que se tem notícia, assentado nas antigas tradições sumerianas.

            O Código de Hamurábi apresenta uma diversidade de procedimentos jurídicos e determinação de penas para uma vasta gama de crimes, partindo, a maior parte delas, do princípio "olho por olho, dente por dente". O Código de Hamurábi decorria da Lei de Talião que preconizava que as punições fossem idênticas ao delito cometido.

            O Código abarca praticamente todos os aspectos da vida babilônica, passando pelo comércio, propriedade, herança, direitos da mulher, família, adultério, falsas acusações e escravidão. As punições variavam de acordo com a posição social da vítima e do infrator.

Hamurábi também empreendeu uma ampla reforma religiosa, transformando o deus Marduk, da Babilônia, no principal deus da Mesopotâmia, mesmo mantendo as antigas divindades. A Marduk foi levantado um templo junto ao qual foi erguido o zigurate de Babel, citado pelo Livro do Gênesis (Bíblia) como uma torre para se chegar ao céu.

Após a morte de Hamurábi, o império entrou em decadência principalmente por causa das rebeliões internas e novas ondas de invasões, como a dos hititas e a dos cassitas. A desorganização do Império Babilônico promoveu o surgimento de vários reinos menores rivais, propiciando a ascensão dos assírios, a partir de 1300 a.C.

 

O império Assírio (1300 a.C. – 612 a.C.)

Os assírios fixaram-se no norte da Mesopotâmia por volta de 2500 a.C., fazendo da cidade de Assur — nome de sua principal divindade — a sua capital. Ocupavam as margens do rio Tigre e as montanhas próximas, onde era abundante a madeira e várias riquezas minerais, como o cobre e o ferro, sobrevivendo graças às atividades agropastoris e à caça. Aos poucos, edificaram um forte Estado militarizado, contando com cavalos, carros de guerra e armas de ferro; armamentos bem superiores aos dos vizinhos, os quais foram submetidos ao seu domínio. Nesse primeiro avanço expansionista, os assírios conquistaram várias regiões vizinhas, incluindo a Média Mesopotâmia e boa parte da Síria e da Palestina.

            O predomínio social entre os assírios cabia a uma aristocracia sacerdotal e militar que sujeitava toda a massa camponesa, a qual era obrigada ao pagamento de tributos em cereais, metais, gado e a prestar serviços gratuitos ao Estado. Com a crescente expansão e militarização da sociedade assíria, a produção e os serviços públicos acabaram ficando a cargo das populações vencidas, transformadas em escravos, e grande parte dos lavradores, e artesãos assírios passou a compor o exército.

Os assírios ficaram famosos pela crueldade com que tratavam os vencidos, não sendo raro o esfolamento vivo nas pedras. Cortavam orelhas, órgãos genitais e narizes daqueles que ousassem ameaçar seu domínio, buscando a total intimidação dos conquistados. Durante o reinado de Sargão II, os assírios conquistaram o reino de Israel e, no de Tiglatfalasar, tomaram a cidade da Babilônia. Durante o século VII a.C., sobretudo nos reinados de Senaqueribe (705 a.C. - 681 a.C.) e de Assurbanipal (668 a.C. - 631 a.C.), o Império Assírio atingiu seu apogeu, dominando uma área que se estendia do golfo Pérsico à Asia Menor e do Tigre até o Egito.

Com Senaqueribe, a capital foi transferida de Assur para Nínive e, sob Assurbanipal foram realizadas as últimas grandes conquistas assírias, incluindo a do Egito. Assurbanipal, além de grande guerreiro, era um entusiasta da ciência e literatura, o que explica a criação de uma grande biblioteca na nova capital assíria. A Biblioteca de Nínive reuniu um amplo acervo cultural de toda a região, formada por dezenas de milhares de tijolos de argila.

Após a morte de Assurbanipal (631 a.C.), o Império Assírio declinou rapidamente, graças às revoltas dos povos dominados, sucumbindo definitivamente em 612 a.C. Nesta data, Nabopolassar, rei dos caldeus, e com ajuda dos medos, seus vizinhos, destruíram Nínive e todo o Império Assírio, inaugurando o Segundo Império Babilônico.

 

O segundo império babilônico (612 a.c. – 539 a.c.)

Caldeus

            Os caldeus, povo de origem semita, derrotaram os assírios e fizeram da Babilônia novamente a capital da Mesopotâmia. Assim nasceu o Império Neobabilônico, mais grandioso que o de Hamurábi, e mais de mil anos depois.

Durante o reinado de Nabucodonosor (604 a.C. - 561 a.C.), o Segundo Império Babilônico viveu o seu apogeu. Foi a época das grandes construções públicas, como os templos para vários deuses, especialmente o de Marduk, as grandes muralhas da cidade e os palácios, a exemplo dos "Jardins Suspensos da uma das maiores "maravilhas do mundo"

Nabucodonosor também expandiu seu império, dominando boa parte da Fenícia, Síria e Palestina, e escravizando os habitantes do reino de Judá, que foram transferidos como escravos para a capital ("Cativeiro da Babilônia").

            O Segundo Império Babilônico não sobreviveu por muito tempo à morte de Nabucodonosor, sendo conquistado em 539 a.C. pelo rei persa Ciro l. A partir daí, a Mesopotâmia e seus domínios passaram a pertencer ao Império Persa.

 

Economia, Sociedade e cultura

            A estrutura produtiva mesopotâmica, tal como a do Egito, inseria-se no modo de produção asiático, tendo a agricultura como atividade principal e a população submetida ao sistema de servidão coletiva. A unidade econômica da cidade-estado ou do império dependia do templo, eixo da religião, e dos sacerdotes, que atuavam como elo de ligação entre a população e a autoridade política, o patesi ou o imperador. Como as terras pertenciam aos deuses, os seus representantes (políticos e religiosos) administravam essas terras e dominavam camponeses, artesãos (padeiros, oleiros, tecelões, ferreiros etc.), soldados e serviçais menores, obrigados a produzir, defender e a trabalhar nas obras públicas.

Uma aristocracia de governantes, sacerdotes e funcionários públicos, através do Estado, controlava a construção de reservatórios de água, diques, canais de irrigação, estradas e depósitos de alimentos, além de impor tributos sobre quase tudo o que era produzido. Também contava com a mão-de-obra escrava, constituída dos vencidos nas guerras. Nos celeiros públicos, conhecidos os estoques, definia-se o critério de distribuição dos excedentes agrícolas obtidos da população.

O artesanato e o comércio mesopotâmicos atingiram muito desenvolvimento, com seus negociantes organizando caravanas que iam da Arábia à Índia, buscando ou levando produtos, como lã, tecidos, cevada e minerais, entre outras mercadorias. Quando utilizavam os rios Tigre e Eufrates ou o mar, alcançado através do golfo Pérsico, frequentemente contavam com navios tripulados por marinheiros fenícios. A intensidade das atividades econômicas da Mesopotâmia chegou a transformar muitas de suas cidades em grandes entrepostos comerciais, destacando-se, especialmente, a Babilônia.

A estrutura social mesopotâmica também assemelhava-se à do Egito, tendo no topo uma pequena elite poderosa, concentradora de privilégios e da força, sustentada pela esmagadora maioria da população submetida à servidão imposta por um governo despótico e teocrático. A cultura mesopotâmica descendia, em grande parte, dos sumérios, destacando-se especialmente a escrita cuneiforme.

A religião mesopotâmica, de herança sumeriana e ampliada por seus sucessores, tinha inúmeros deuses que representavam fenômenos da natureza (atualmente são conhecidos cerca de três mil) e era vista como meio de obter recompensas terrenas imediatas, pois, ao contrário dos egípcios, os mesopotâmicos não acreditavam na vida após a morte. Mesmo assim, na Assíria e na Babilônia, a religião evoluiu para a crença de que os mortos deveriam receber boas sepulturas, para nunca abandonarem seu mundo de sombras. Do contrário, eles achavam que a a:ma não encontraria paz e ficaria vagando pela terra e sofrendo eternamente e provocando desgraças. Para alcançar as vantagens os mesopotâmicos submetiam-se aos rituais religiosos, comandados pelos sacerdotes, os quais faziam dos templos o centro de toda religiosidade. Estes templos podiam abrigar também o celeiro e as oficinas, integrando, inclusive, a torre do zigurate.

Os mesopotâmicos sobressaíram-se nas ciências, na arquitetura e na literatura. Observando o céu, especialmente a partir de suas torres e buscando decifrar a vontade dos deuses, os sacerdotes desenvolveram a astrologia e a astronomia, conseguindo atingir um amplo conhecimento sobre fenômenos celestes, como o movimento de planetas e estrelas e a previsão de eclipses.

Aprimorando os conhecimentos de astronomia, avançaram no domínio da matemática que também servia às necessidades da vida econômica. Foram os inventores da álgebra, desenvolvendo cálculos de divisão e multiplicação, incluindo a criação da raiz quadrada e da raiz cúbica. Também dividiram o círculo em 360 graus e criaram um calendário com o ano de doze meses, divididos em semanas de sete dias e estes, em períodos de doze horas.

Na arquitetura, os mesopotâmicos foram inovadores com a aplicação de arcos; na escultura e pintura, enfatizaram a estatuária e elaboração dos baixos-relevos com sentido decorativo, especialmente para templos e palácios.

            Na literatura, constituída principalmente de poemas e narrativas épicas, destacam-se duas obras sumerianas, a Epopéia de Gilgamés, a mais antiga narrativa sobre o dilúvio, e o Mito da Criação.

Na primeira, Gilgamés é apresentado como rei de Uruk que busca a imortalidade, acompanhado em suas aventuras por Enkidu. Em uma de suas passagens, o poema assemelha-se intensamente à posterior descrição do dilúvio no Antigo Testamento, não deixando dúvida de que os autores do Gênesis ali se inspiraram. No poema sumério, o herói é Utanapishtim, enquanto no Gênesis, é Noé:

"Quando chegou o sétimo dia, soltei um

[pombo.

O pombo partiu, mas regressou em

[seguida;

deu um voo curto pois não encontrou

[lugar seguro para pousar.

Depois soltei uma andorinha.

A andorinha partiu, mas logo regressou.

Mandei soltar um corvo que,

vendo que as águas tinham descido,

come, descreve um círculo e não

[regressa.


Já o Mito da Criação, narra a origem do mundo através do mito do Marduk, deus da Babilônia, que criara o céu e a terra, os astros e o homem para servir aos deuses. Vale destacar também, como grande marco da história do Direito, o Código de Hamurábi.

 

 

 

Vicentino, Cláudio. História Geral. ed. atual. e ampl.. São Paulo. Scipione, 1997.



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