Roteiro de Estudo - Expansão Ultramarina Europeia e o Mercantilismo
segunda-feira, 28 de agosto de 2023
segunda-feira, 14 de agosto de 2023
Texto Base - Grécia Antiga
Grécia antiga
Grécia desempenhou papel de primeiro
plano na Antiguidade, constituindo uma civilização cuja influência foi profunda
na formação da cultura ocidental. Da Grécia antiga herdamos -não só uma extensa
gama de conhecimentos científicos, desenvolvidos por pensadores como Pitágoras,
Erastóstenes, Euclides, Tales, Arquimedes, como também os grandes fundamentos
do pensamento filosófico e político presentes nas obras de Sócrates, Platão,
Aristóteles e outros. Também nossos padrões estéticos de arte e beleza foram
herdados dos gregos, influenciados por sua escultura, arquitetura e teatro.
A Grécia antiga abrangia o sul da
península Balcânica (Grécia europeia ou continental), as ilhas do mar Egeu
(Grécia insular) e o litoral da Asia Menor (Grécia asiática). A partir do
século VIII a.C., o território da Grécia europeia foi ampliado com a fundação
de diversas colônias no Mediterrâneo ocidental, principalmente no sul da
Itália, que passou a chamar-se Magna Grécia.
Na
Grécia continental, região em que viveram os mais longínquos antepassados dos
gregos, o solo predominante é árido e pedregoso, o que dificultava a prática da
agricultura. O relevo, muito acidentado, tornava difícil a comunicação entre
vários pontos do interior dessa região, contribuindo para o seu fracionamento
político. No litoral, por outro lado, havia a facilidade de comunicação pelo
mar. Sendo extremamente recortada, a costa grega apresentava uma série de
portos naturais, dos quais as embarcações partiam com destino às ilhas do Egeu,
à costa da Ásia Menor ou a outros pontos da própria Grécia continental.
As civilizações
cretense e creto-micênica
As
origens da civilização grega estão profundamente relacionadas à história de
Creta, que viveu o processo de ascensão e queda de sua civilização entre 2000
a.C. e 1400 a.C.
A
privilegiada situação geográfica de Creta, a maior ilha do mar Egeu, favoreceu
os contatos marítimos com o Egito, a Grécia e a Asia Menor, regiões com as
quais desenvolveu intenso comércio. Até o século XV a.C., Creta exerceu a mais
completa hegemonia comercial sobre essa região do Mediterrâneo, estendendo seus
domínios à Grécia continental, onde conquistou diversas cidades.
As
características desta civilização lembram, em suas estruturas, a Antiguidade
oriental. Em Creta, dado o enorme desenvolvimento das práticas comerciais, o
controle político concentrava-se nas mãos de uma elite comercial
(talassocracia), liderada por reis, descendentes do lendário Minos. A
cidade de Cnossos era a capital do reino, a qual, na época de seu
apogeu, chegou a contar com uma população de mais de cem mil habitantes.
As
cidades cretenses, segundo as investigações arqueológicas, apresentavam um
singular talento arquitetônico, com grandes palácios e edifícios dotados de
complexos sistemas de saneamento e canalização de água. A amplitude do palácio
governamental de Cnossos, com suas inúmeras dependências e a decoração, sugeria
a ideia de um verdadeiro labirinto, palavra originariamente associada à
residência do rei Minos.
Em
Creta, sabe-se que a mulher desfrutava de direitos e obrigações quase
desconhecidos em outras regiões na Antiguidade. As mulheres cretenses possuíam
uma importância que transparecia na religião, cuja principal divindade era
feminina, a deusa Grande-Mãe. Isto faz supor que, na ilha, sobrevivesse
uma forte influência das sociedades matriarcais pré-históricas. As mulheres
participavam das grandes festas e das cerimônias religiosas, muitas eram
sacerdotisas, outras fiandeiras e até pugilistas, caçadoras e toureiras.
Em
meados do século XV a.C., os AQUEUS — povo que habitava nessa época a
Grécia continental — invadiram Creta, dando início à civilização
creto-micênica, cujos representantes se espalhariam pelo mar Egeu dominando-o
até o século XIII a.C.
Embora fundada por aqueus, a cidade de
Micenas adotou muitos valores cretenses, especialmente os artísticos, apesar de
impor a supremacia patriarcal, iniciando a transição para o mundo grego. O
predomínio de Micenas, que vencera também sua rival, Tróia, duraria até o
século XII a.C., quando a região foi invadida pelos conquistadores gregos
chamados dórios.
O
povoamento da Grécia
Provavelmente, os primeiros povos a
habitar a Grécia foram os pelasgos, ou pelágios. Ao que tudo
indica, por volta do ano 2000 a.C., esses povos, organizados em comunidades
coletivistas, ocupavam a zona litorânea e mais alguns pontos isolados na Grécia
continental. Foi aproximadamente nessa época que teve início, na Grécia, um
grande período de invasões, que se prolongaria até 1200 a.C. Os povos invasores
— indo-europeus provenientes das planícies euroasiáticas — chegaram em
pequenos grupos, subjugando lentamente os pelasgos.
Os primeiros indo-europeus que
invadiram a Grécia foram os AQUEUS, e ali se estabeleceram entre os anos
2000 a.C. e 1 700 a.C. Foram eles os fundadores de Micenas, cidade que
constituiu o berço da civilização creto-micênica.
Entre 1 700 a.C. e 1400 a.C., outros
povos atingiram a Grécia: os EÓLIOS, que ocuparam a Tessália e outras
regiões, e os JÔNIOS, que se fixaram na Ática, onde posteriormente
fundariam a cidade de Atenas. A partir de 1400 a.C., com a decadência da
civilização cretense, Micenas viveu um período de grande desenvolvimento, que
terminaria por volta de 1200 a.C., quando se iniciaram as invasões dos DÓRIOS.
Os dórios — o último povo indo-europeu
a migrar para a Grécia — eram essencialmente guerreiros. Ao que parece, foram
eles os responsáveis pela destruição da civilização micênica e pelo consequente
deslocamento de grupos humanos da Grécia continental para diversas ilhas do
Egeu e para a costa da Asia Menor. Esse processo de dispersão é conhecido pelo
nome de primeira diáspora.
Após o esplendor da civilização
micênica, seguiu-se um período em que as cidades foram saqueadas, a escrita
desapareceu e a vida política e econômica enfraqueceu, caracterizando um
processo de regressão da Grécia a uma fase primitiva e rural. Desse período
(séculos XII a.C. a VIII a.C.), que foi a base da civilização grega, não se tem
registro, exceto os poemas Ilíada e Odisséia atribuídos a Homero, que, tendo
vivido no século VI a.C., teria recolhido histórias transmitidas oralmente
durante os séculos anteriores. Por essa razão, esse período, posterior à
invasão dórica, ficou conhecido como tempos homéricos. Em decorrência, o
período anterior a 1200 a.C., caracterizado pela imigração de povos
indo-europeus e pela formação da cultura creto-micênica, recebeu a denominação
de tempos pré-homéricos.
Os tempos
homéricos (do século XII a.C. ao século VIII a.C.)
Para compreendermos a evolução
política da Grécia antiga, é necessário retrocedermos aos tempos pré-homéricos,
quando os povos indo-europeus ali se fixaram. Já nessa época, esses grupos
humanos encontravam se divididos em genos, famílias coletivas
constituídas por um grande número de pessoas sob a liderança de um patriarca.
Após as invasões dos dórios, os genos passaram a constituir a forma
predominante de organização social. Assim, podemos afirmar que o período
homérico foi também o período das comunidades gentílicas.
Cada geno constituía uma unidade
econômica, social, política e religiosa da sociedade grega. De fato, esses
pequenos agrupamentos humanos conseguiam, isoladamente, assegurar sua
sobrevivência com uma economia natural e coletivista. Os meios de produção
(terra, sementes), assim como os bens produzidos (alimentos, objetos),
pertenciam a todos os indivíduos, ou seja, a propriedade não tinha caráter
particular. Na organização hierárquica dos genos, o patriarca, ou pater,
era a autoridade máxima, exercendo as funções de juiz, chefe religioso e
militar. O critério que definia a posição dos indivíduos na comunidade era o
seu grau de parentesco com o pater.
As comunidades gentílicas existiram
durante quase todo o período homérico. Apenas por volta do século VIII a.C.,
iniciou-se o processo de desintegração dos genos, evoluindo mais rapidamente em
algumas regiões do que em outras. Diversos fatores contribuíram para a
dissolução dos genos no final dos tempos homéricos, entre eles o crescimento
populacional e o aumento do consumo. Entretanto, a produção continuava
limitada, pois havia poucas terras férteis e as técnicas de produção eram
bastante rudimentares.
A luta pela sobrevivência, que
dependia basicamente da terra, desencadeou uma série de guerras entre genos.
Para enfrentar um inimigo comum, alguns deles se uniram, formando uma fratria.
Reunidas, as fratrias constituíam uma tribo, a qual se submetia à
autoridade do filobasileu, o supremo comandante do exército. A união de
várias tribos deu origem ao demos ("povo",
"povoado"), que reconhecia como seu líder supremo o baliseu.
A crise da sociedade gentílica alterou
profundamente a estrutura interna dos genos. Aos poucos, a terra deixou de
constituir propriedade coletiva, sendo dividida, de modo desigual, entre os
membros dos genos. As melhores parcelas de terra foram tomadas pelos parentes
mais próximos do pater, e por esse motivo, passaram a ser chamados de eupátridas
(“bem-nascidos”). O restante das terras foi dividido entre os georgóis
("agricultores"), parentes mais distantes do patriarca. Nesse
processo de divisão, os mais prejudicados foram os thetas (“marginais”) para
os quais nada restou.
Com a crise das comunidades
gentílicas, a Grécia continental se transformou em palco de inúmeros conflitos
e tensões sociais, que resultaram em uma nova dispersão do povo grego — a segunda
diáspora, Os principais fatores que provocaram esse novo deslocamento foram
o crescimento demográfico e a escassez de terras cultiváveis na Grécia
continental, em grande parte consequência da concentração da propriedade nas
mãos de uma pequena parcela da população.
Desse modo, boa parte da população
excedente, constituída, principalmente, pelos menos beneficiados na partilha
das terras, emigrou para regiões do Mediterrâneo ocidental, ali fundando
diversas colônias. Assim surgiram cidades como Tarento e Siracusa, no sul da Itália,
região que se desenvolveu muito graças ao cultivo de cereais e que ficou
conhecida como Magna Grécia.
Nesse período de instabilidade, por
questões de segurança, várias tribos se uniram formando comunidades
independentes, que deram origem às pólis ou cidades-estados. As
cidades-estados tinham como ponto central a acrópole„ parte mais alta da
povoação, governada pelo conselho de aristocratas, os eupátridas.
Os tempos arcaicos (do século VIII a.C. ao século VI a.C.)
A privatização das terras a dissolução
da comunidade gentílica levaram a profunda' transformações no interior da
sociedade grega. Inicialmente, processou-se a passagem de uma economia
doméstica para uma economia de mercado local, que, mais tarde, voltou-se para o
exterior.
Em sintonia, a sociedade e a política
passavam por transformações: a aristocracia enriquecia-se, aumentando as
desigualdades entre os grupos sociais, levando a descontentamentos, lutas,
tiranias. Mais que a tradição, seria a riqueza que determinaria o lugar do indivíduo
na escala social. Como decorrência do aumento de importância da aristocracia,
substituiu-se a monarquia pela oligarquia (= ''governos de poucos").
A Grécia possuiu mais de cem cidades-estados
autônomas e independentes que, de modo geral, se mantiveram oligárquicas ou
evoluíram para a democracia. Vamos tratar aqui dos dois exemplos mais
importantes das pólis gregas: Esparta (a oligárquica) e Atenas (a democrática).
Esparta
Esparta, ou Lacedemônia, localizava-se
na península do Peloponeso, na planície da Lacônia. Foi fundada no século IX
a.C., às margens do rio Eurotas, após a união (sinecismo) das três tribos
dórias. Embora defendida por um conjunto de montanhas cujos desfiladeiros
formavam fortificações naturais e a isolavam das regiões vizinhas, parece ter
seguido, até o século VII a.C., uma evolução semelhante à das demais cidades
dominadas pelos dórios. Nesse período, Esparta conquistou a região da Messênia,
que a circundava, e solidificou seu caráter essencialmente guerreiro, vindo a
desenvolver-se de forma peculiar e distinta das demais pólis gregas.
A estrutura social espartana era
rígida e dividia-se em:
· Espartanos
ou esparciatas: descendentes dos conquistadores dórios, eram os únicos
detentores da cidadania e, portanto, com direitos políticos. Formavam uma
classe privilegiada que monopolizava o poder militar e, por decorrência, o
político e o religioso.
· Periecos:
eram os habitantes dos arredores da cidade, provavelmente descendentes das
populações nativas que se submeteram pacificamente aos dórios. Livres,
dedicavam-se ao comércio e ao artesanato, tarefas desprezadas pelos espartanos.
· Hilotas:
eram servos pertencentes ao Estado, prováveis descendentes da população
conquistada pelos dórios. Eram cedidos aos espartanos juntamente com a terra na
qual trabalhavam e, por constituírem a maioria da população, eram mantidos em
obediência pelo terror.
A legislação espartana baseava-se num
código de leis atribuído a Licurgo, cuja existência é posta em dúvida
pelos historiadores. Essa legislação preservava a sociedade guerreira
assegurando aos cidadãos-soldados (espartanos) totais privilégios.
Politicamente, Esparta organizava-se
sob uma diarquia, ou seja, uma monarquia composta por dois reis, que
tinham funções religiosas e guerreiras. As funções executivas, entretanto, eram
exercidas pelo Eforato composto por cinco membros eleitos anualmente,
que administravam os negócios públicos e fiscalizavam a vida dos cidadãos.
Havia, ainda, a Gerúsia,
composta por 28 membros da aristocracia, com idade superior a sessenta anos,
que tinha funções legislativas e de corte suprema e controlava a atividade dos diarcas.
Na base das estruturas políticas, encontrava-se a Ápela ou assembleia
popular, formada por todos os cidadãos maiores de trinta anos, que tinha a
função de votar leis e escolher os gerontes.
Ao contrário de Atenas e de outras
pólis gregas, Esparta manteve-se sempre oligárquica, não evoluindo para a
democracia. O modo de vida espartano, rigidamente regulamentado, visava
perpetuar, de todas as formas, a estrutura social existente. Atendendo a essa
disposição, a educação do cidadão espartano era dirigida intensamente para a
obediência à autoridade e para a aptidão física, fundamentais a um Estado
militarizado. Sob essas condições, a debilidade física era inadmissível e as
crianças que apresentassem algum indício de doença ou fraqueza eram
sacrificadas ao nascer. As demais ficavam com suas famílias até os sete anos de
idade, quando então os meninos eram entregues aos cuidados do Estado.
Aprendendo
a viver em duras condições, sob rígida disciplina, obtinham, até os 18 anos,
uma férrea educação guerreira. Com essa idade ingressavam no exército,
tornando-se hoplitas. Aos trinta anos tornavam-se cidadãos, sendo-lhes
permitido casar e ter participação política. Somente aos sessenta anos os
espartanos eram desmobilizados do exército, podendo fazer parte da Gerúsia.
De
acordo com o culto ao preparo físico, também as moças eram educadas severamente
pela família e obrigadas a executar exercícios atléticos.
Atenas
Atenas,
situada na Ática, apresenta uma paisagem movimentada, onde colinas e montanhas
parcelam pequenas planícies. Cada região recebe uma denominação específica:
regiões de planícies férteis chamavam-se Pédium, regiões de montanhas
áridas, Diácria, e regiões litorâneas, Parália.
A
ocupação inicial da Atica foi realizada pelos aqueus, seguidos posteriormente
por eólios e principalmente jônios. Atenas, que havia sido fundada pelos
jônios, foi poupada, graças à sua localização — próxima ao mar e cercada por
montanhas —, às invasões dóricas do século XII a.C. e ao conhecimento de uma
sociedade imposta pelos vencedores.
No
final da época homérica, entretanto, também a Ática passou por profundas
transformações, desde a desagregação da comunidade gentílica até a formação da
sociedade de classes. Foi nesse período, aproximadamente século X a.C., que
ocorreu a unificação das células gentílicas em quatro tribos, em torno do
centro político-militar-religioso que a acrópole de Atenas representava.
Atenas
conservou a monarquia por muito tempo, até que os aristocratas acabaram por
solapar o poder do basileu, que foi substituído pelo arcontado —
composto por nove arcontes cujos mandatos eram anuais: arconte polemarco
(tinha poder militar e de julgar os estrangeiros); arconte epônimo
(representava o poder religioso); arcontes thesmothetas (em número de
seis, tinham o poder judiciário sobre os thetas e georgóis).
Foi
também criado um conselho — o areópago — composto por eupátridas, com
função de regular a ação dos arcontes. Estabeleceu-se, assim, o pleno domínio
oligárquico.
Nesse
período, chamado pós-homérico ou arcaico, a escassez de terras férteis e
o aumento populacional impulsionaram algumas cidades — como Corinto, Mégara e,
destacadamente, Atenas — a estabelecer colônias com fins comerciais e de
povoamento em vários pontos do Mediterrâneo — era o período da segunda
diáspora. Durante o transcurso dos séculos VIII, VII e VI a.C., os gregos
instalaram entrepostos e colônias, principalmente no sul da península Itálica,
em torno do mar Negro chamado, então, de Ponto Euxino — e na Asia Menor.
O
comércio entre essas áreas baseava-se nas exportações de azeite, vinho e peças
de artesanato gregas e na importação de artigos como trigo, metais preciosos,
cobre, ferro e madeira das regiões mediterrânicas. Essa expansão atenuou os
problemas agrários internos, enriqueceu cidades e, ao mesmo tempo, expandiu a
cultura grega.
Em
Atenas, as classes ligadas ao comércio, ao mesmo tempo que adquiriam maior
poder econômico, procuravam ampliar seu domínio social e político, fato
desencadeador de confrontos e lutas que ajudaram a moldar sua nova estrutura.
Além
dos eupátridas, georgóis e thetas (que em boa parte emigraram em expedições
colonizadoras), a sociedade ateniense ainda se subdividiria, a partir do século
VIII a.C., em:
ü Demiurgos: comerciantes, em geral: georgóis que
perderam as terras, thetas que permaneceram na pólis ou artesãos. Foi uma
classe intermediária que fez da riqueza um valor que se sobrepôs à tradição.
ü Escravos: prisioneiros de guerra, sem direitos
políticos, eram de início numericamente inexpressivos, mas logo se
transformaram na base da produção agrária. Em Atenas, atuaram em todos os
ofícios, e muitos até chegaram a alcançar a liberdade, embora nunca a
cidadania.
A estrutura social ateniense ativou o
confronto de interesses e impasses que caracterizaram o período arcaico. De
maneira geral, havia rivalidades políticas resultantes da posição
socioeconômica dos diversos grupos existentes em Atenas. Os eupátridas, donos
das maiores e melhores terras na planície (Pédium), buscavam conservar seus
privilégios e o poder. Já os comerciantes, controladores do litoral (Parália),
enriquecendo crescentemente, buscavam mudanças a fim de conseguir participação
no poder.
Em pior situação estavam os georgóis e
os thetas, habitantes da montanha (Diácria), vivendo em péssimas condições, sem
direitos políticos. Muitos recorriam a empréstimos para poder cultivar suas
terras, visando à sobrevivência. Com isso endividavam-se, ficando sujeitos aos
poderosos, o que semeava descontentamento e anseio por mudanças.
Esquematicamente, poderíamos apontar o
seguinte quadro sociopolítico, resumindo a latente tensão entre os grupos
sociais atenienses:
Partido |
Classe social |
Posição política |
Pediano |
Eupátridas (oligarquias) |
Conservadores |
Paraliano ou Litorâneo |
Comerciantes (possuem o poder econômico) |
Moderados (só queriam pequenas mudanças
políticas) |
Diacriano ou Montanhês |
Thetas e georgóis (endividados) |
Radicais populares (lutam por mudanças
profundas) |
As lutas entre as classes sociais, a
instabilidade, o crescimento da pólis e o desenvolvimento do comércio foram
fatores que motivaram o surgimento de reformas, feitas por legisladores, que
expressavam as divisões no interior da sociedade.
Dentre esses legisladores, destacou-se
Drácon, que, em 621 a.C., organizou e registrou por escrito as leis que,
até então, baseavam-se na tradição oral e eram conhecidas apenas pelos eupátridas.
O código legal de Drácon, entretanto, além de ser extremamente severo, manteve
os privilégios sociais e políticos existentes. Assim, mesmo com as leis
escritas, as desigualdades continuaram ativando o descontentamento, levando, consequentemente,
à ocorrência de choques sociais.
Em 594 a.C., Sólon, outro
legislador, deu início a reformas mais ambiciosas. Eliminou as hipotecas por
dívidas, libertou os escravizados por elas e dividiu a sociedade
censitariamente, ou seja, de acordo com o padrão de renda dos indivíduos. O
critério de riqueza passou, então, a determinar privilégios, abrindo espaço
para a ascensão política dos ricos demiurgos. Além disso, criou a Bulé,
ou Conselho dos Quatrocentos, da qual participavam elementos das quatro tribos
em que estava dividida a Ática; a Eclésia, assembleia popular que
aprovava as medidas da Bulé; e o Helieu, tribunal de justiça aberto a
todos os cidadãos.
As reformas de Sólon desagradaram os
aristocratas, que perderam parte de seus privilégios oligárquicos, e o povo,
que esperava reformas mais extensas e profundas. A conturbação política que se
seguiu à reforma de Sólon permitiu o surgimento dos tiranos, ditadores
que usurparam o poder. O primeiro foi Pisístrato, que governou Atenas de
561 a.C. a 527 a.C. e procurou amenizar os confrontos sociais, patrocinando
várias obras públicas, gerando emprego a thetas e georgóis descontentes.
Pisístrato foi sucedido por seus
filhos Hiparco e Hípias, que não deram seguimento a essas
reformas, perdendo o apoio popular e gerando insatisfação. Em 510 a.C., eclode
uma revolta, liderada por Clístenes. Finaliza-se a ditadura e
inaugura-se a democracia ateniense.
Uma das primeiras medidas de Clístenes
foi a redivisão de Atenas em dez tribos, em lugar das quatro anteriores. Dessa
forma, foi neutralizada a influência dos eupátridas, eliminando-se o papel
político tradicional de genos, tribos e fratrias. Procedendo à reorganização
dos órgãos públicos, a Bulé passou a contar com quinhentos membros (cinquenta
por tribo), os quais se revezam no governo da pólis; ao colégio de nove arcontes
foi acrescentado um secretário (dez membros), um eleito de cada tribo. A
Eclésia, assembleia popular composta por seis mil cidadãos de todas as classes,
teve seus poderes decisórios ampliados, fiscalizando a atuação das demais
instituições políticas e votando as propostas da Bulé.
A Eclésia tinha também o poder de
votar o ostracismo — exílio por um período de dez anos — contra todos os
que pusessem em perigo a democracia ateniense. O exilado não perdia suas
propriedades, que lhe eram restituídas, juntamente com seus direitos civis, ao
retornar à cidade.
É importante lembrar que a democracia
instituída pelas reformas de Clístenes era um sistema político do qual
participavam todos os cidadãos atenienses, adultos, filhos de pai e mãe
atenienses. Estes, entretanto, constituíam uma minoria da qual estavam
excluídos os estrangeiros (metecos), os escravos e as mulheres.
Clístenes foi denominado o ' 'pai da
democracia" e suas reformas trouxeram a estabilidade social que permitiu a
expansão econômica ateniense.
Atenas era, assim, o reverso político
de Esparta e essa oposição seria marcante na história grega, ficando agrupadas
em torno de uma ou de outra as demais cidades-estados gregas. Entretanto,
durante o século V a.C., essas diferenças ficariam obscurecidas pelo esforço
conjunto contra o avanço dos medo-persas sobre as colônias gregas orientais e,
posteriormente, sobre a própria península Balcânica.
Os tempos
clássicos (do século V a.C. ao século IV a.C.)
Enquanto Atenas fortalecia sua estrutura
democrática, os persas, que já eram senhores de grandes domínios no Oriente,
avançaram em direção ao oeste. Sob o comando do imperador Dario l, chegaram à
Asia Menor, onde atacaram Mileto, Éfeso e as ilhas de Samos e Lesbos. Após
algum tempo de submissão, essas regiões rebelaram-se, e Atenas enviou navios e
tropas em seu auxílio. Entretanto, esses esforços foram insuficientes,
permitindo que os persas destruíssem Mileto e iniciassem avanço sobre a Grécia.
Era o início das Guerras Médicas.
A primeira expedição enviada por Dario
I foi desbaratada em Maratona (490 a.C.), numa batalha em que os gregos, apesar
da inferioridade numérica, acabaram vitoriosos. Nos anos seguintes, Atenas
reforçou sua marinha e as cidades gregas puderam preparar-se para enfrentar os
novos ataques persas. Entretanto, quando Xerxes, sucessor de Dario, deu início
à segunda investida contra o território grego, esteve muito próximo de estender
seu domínio sobre toda a Grécia. Após derrotar um exército espartano comandado
por Leônidas, no desfiladeiro das Termópilas, chegou a invadir e incendiar
Atenas. Todavia, os persas acabaram por ver malograr seus intentos com a
derrota na batalha naval de Salamina. Sem suprimentos ou reforços, o exército
de Xerxes recuou para a Asia Menor e foi derrotado na batalha de Plateia (479
a.C.) por forças atenienses e espartanas, sob o comando de Pausânias e
Aristides. A luta com os persas, porém, não estava encerrada.
Em meio à guerra, forjou-se a união
militar das pólis gregas, denominada Confederação de Delos. Cada
cidade-estado deveria contribuir com navios ou dinheiro, a serem depositados na
ilha de Delos. Quase todos os Estados gregos do mar Egeu aliaram-se, comandados
por Atenas, que tomou definitivamente a ofensiva contra os persas, libertando
algumas províncias da Asia Menor e vencendo a decisiva batalha do rio
Eurimedon, em 468 a.C.
Finalmente, em 449 a.C., foi assinada
a Paz de Calias ou Paz de Címon, pela qual os persas comprometiam-se a
abandonar o mar Egeu. O Mediterrâneo oriental ficava, assim, aberto à frota
ateniense, que, sem rivais, pôde expandir o comércio e o poderio da cidade, que
se encontrava em seu período de maior prosperidade. Paralelamente a isso, as
cidades gregas estavam militarmente fortalecidas.
O período compreendido entre os anos
461 a.C. e 429 a.C. é considerado a "idade de ouro" de Atenas, quando
a cidade viveu o seu auge econômico, militar, político e cultural. Nesse
período, Atenas foi governada por Péricles, e nesses trinta anos
tornou-se a cidade mais importante da Grécia, graças às reformas implantadas
tanto no nível político, aperfeiçoando-se a democracia, quanto no cultural,
produzindo-se obras-primas, até hoje modelos de beleza.
Embora aristocrata de nascença,
Péricles deu maior amplitude à democracia ateniense, permitindo o ingresso e a
participação política de parcelas da população antes excluídas. Atenienses de
baixa renda, envolvidos no trabalho constante para garantir a sobrevivência,
não podiam dedicar-se à participação política. Entre as reformas políticas
estão a instituição do misthoy, soldo para os integrantes do
exército, assim como uma pequena remuneração para as funções e cargos públicos,
o que possibilitou maior participação popular. Péricles retirou também diversas
outras restrições à cidadania, embora os cidadãos ainda constituíssem uma
minoria.
Nessa época, Atenas possuía quarenta
mil cidadãos que, somados às suas famílias, completavam um total de 150 mil
indivíduos. Os metecos (estrangeiros, filhos de não-nascidos em Atenas)
chegavam a cinquenta mil e os escravos perto de 120 mil. Assim, de uma
população estimada de 320 mil pessoas, apenas quarenta mil participavam da
democracia ateniense.
Péricles empenhou-se também na
reconstrução e embelezamento de Atenas. Assim, entre as grandes construções
realizadas, destacaram-se o Partenon — templo à deusa Atena —, o
Erectéion e novas muralhas defensivas em torno da cidade que crescia.
Com o passar do tempo, o predomínio de
Atenas na Confederação de Delos transformou-se em imperialismo: havia interferência
ateniense na política e sociedade dos demais aliados. Após pressões, o tesouro
de Delos foi transferido para Atenas; quando alguns Estados-membros quiseram se
retirar, Atenas obrigou-os a permanecer por meio da força, transformando-os de
aliados que eram em Estados que lhe pagavam tributos. Se Péricles era democrata
em Atenas, em relação aos outros Estados era imperialista. Em troca dessas
imposições, oferecia-lhes proteção contra invasões marítimas e vantagens
comerciais.
Assim, o desenvolvimento e a
manutenção da democracia ateniense dependia desse imperialismo, do intenso
comércio, dos tributos cobrados das outras pólis, além da prata extraída das
minas do Láurio. Era com recursos advindos da dominação interna, com a
escravidão, e dessa dominação externa, com o imperialismo, que os atenienses
ostentavam o status de cidadãos e garantiam o esplendor econômico e cultural do
século de ouro.
As demais cidades-estados que haviam
permanecido aristocráticas, representadas especialmente por Esparta, opunham-se
ao expansionismo ateniense, considerando-o um perigo econômico e político.
Assim, organizaram, sob liderança espartana, a sua própria liga — a Confederação
do Peloponeso.
Diante desse quadro, qualquer
incidente colocaria frente a frente os dois blocos rivais. E foi o que
aconteceu.
Em 431 a.C., as duas cidades rivais
entraram em conflito frontal devido a uma disputa comercial entre Atenas e
Corinto, velha aliada de Esparta. Esta tinha grande poderio terrestre enquanto
Atenas dominava os mares. Esparta obteve vantagem logo no início, arrasando os
campos da Ática e obrigando seus habitantes a se refugiarem dentro das muralhas
atenienses. A superpopulação ajudou a propagar uma epidemia que atingiu,
inclusive, Péricles. A partir daí, foi uma guerra de desgaste: durante dez
anos, os conflitos se estenderam sem que houvesse vitórias ou derrotas
decisivas.
Em
421 a.C. foi assinada a Paz de Nícias, rompida por Atenas sete anos
depois, reiniciando as lutas que só se encerraram com a vitória espartana na batalha
de Égos Potamos (404 a.C.). Atenas foi obrigada a entregar seus navios,
demolir suas fortificações e renunciar ao império.
Iniciou-se
o período da hegemonia espartana, com a ascensão dos governos oligárquicos e o
fim da democracia ateniense. O sistema democrático até então vigente em Atenas
foi substituído por trinta atenienses aristocráticos (governo dos Trinta
Tiranos), ocorrendo o mesmo em outras cidades gregas de sistema democrático. O
imperialismo e a democracia atenienses, desta forma, sucumbiram juntos, cabendo
à Guerra do Peloponeso o papel de desfecho final. Mas o domínio espartano que
se iniciou, durou pouco tempo.
A
cidade de Tebas, localizada no estreito de Corinto, projetava-se crescentemente
como grande potência militar da Grécia, quando se iniciou a hegemonia
espartana. Tebas opôs-se a Esparta e, graças à tática militar de dois
excelentes generais, Epaminondas e Pelópidas, os tebanos venceram a batalha
de Leutras (371 a.C.) e iniciaram sua supremacia, que foi também de curta
duração.
Na
prática, essas guerras constantes enfraqueceram os gregos, e, a partir de
meados do século IV a.C., nenhuma das cidades tinha condições para se sobrepor
às outras. Enquanto isso ocorria, a Macedônia — ao norte da Grécia —
expandia-se e fortalecia-se, tornando inevitável seu avanço sobre a Grécia.
Roteiro de Estudo - O IMPERIALISMO NA ÁFRICA E NA ÁSIA
CONTEXTO HISTÓRICO DO IMPERIALISMO
Processo de expansão colonial promovido pelos Estados
europeus industrializados, destacando-se a Grã-Bretanha e a França, no mundo
afro-asiático a partir da segunda metade do século XIX.
Uso de novas fontes de energia → petróleo e movimento da
água para geração de eletricidade.
Desenvolvimento acelerado dos transportes e das
comunicações.
Formação de grandes oligopólios e do capital
financeiro.
OS INTERESSES DAS
POTÊNCIAS IMPERIALISTAS
Objetivos dos países
imperialistas:
Adquirir matéria-prima para a expansão industrial, como o
petróleo e o látex.
Buscar novos mercados consumidores e áreas para investir os
capitais excedentes na Europa.
Conquista de regiões que pudessem absorver a mão de obra
excedente na Europa → contenção social.
JUSTIFICATIVAS
IDEOLÓGICAS DO IMPERIALISMO
Discurso do imperialismo: a “missão civilizadora” do homem
branco, cristão e “civilizado” → assumir o fardo (dever penoso) de levar o
desenvolvimento para os demais povos.
Darwinismo social: uso distorcido da teoria da
evolução das espécies, de Charles Darwin → na escala evolutiva, o branco
colonizador é a “raça” que evoluiu e atingiu o estágio superior, e sua tarefa é
ajudar os povos inferiores a trilharem o mesmo caminho.
DESDOBRAMENTOS DO
IMPERIALISMO
Promoveu uma acirrada disputa por mercados entre as nações
industrializadas.
Intensificou o sentimento nacionalista e revanchista entre
Estados europeus.
Contribuiu para a formação de alianças militares entre as
principais potências europeias: a “paz armada”.
Foi decisivo para a configuração de um cenário histórico
favorável para a eclosão da Primeira Guerra Mundial.
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