Quando iremos acordar e perceber a manipulação
reacionária da agenda nacional?
por Márcio Rogério Silveira* — publicado 23/04/2018
00h10, última modificação 18/04/2018 17h33
Uma parte da esquerda brasileira tem sua agenda pautada por uma
direita reacionária e ultraconservadora que por conseguinte possui raízes nas
relações de poder aristocráticas escravistas e feudais.
Entretanto, esse ultraconservadorismo
não "ressurge das cinzas" por acaso. Ele é planejado, motivado por
uma nova forma de imperialismo e seu braço ideológico, ou seja, as
concepções neoliberais.
A
vertente dominante do imperialismo atual, o grande capital financeiro,
incentiva ao mesmo tempo o ressurgimento das abafadas vozes de uma velha guarda
ultraconservadora e dos puritanos (militares da reserva, saudosos da ditadura,
rentistas enfraquecidos e outros) com as novas lideranças políticas e
econômicas surgidas num ambiente ideológico neoliberal (do empreendedor schumpeteriano e da
meritocracia, como se o ambiente social e o Estado não fossem indutores do
sucesso individual), do individualismo e tantas outras formas ideológicas
difundidas pelas igrejas e pela mídia.
Os
agentes do imperialismo capitalista financiam um componente primordial nesse
jogo de forças. As lideranças juvenis de classe média e média-alta conseguem
arrebanhar uma multidão de jovens alienados (originados sobretudo de um sistema
educacional precário e acrítico) e sem muita esperança no futuro.
Essas
lideranças jovens – enriquecidas, com sua atuação política dissuasiva e
financiadas pelo imperialismo, por meio de ONGs, associações etc. – objetivam
claramente desestabilizar governos e forças de esquerda, atuando sobremaneira
nos movimentos estudantis secundaristas e universitários.
Estes
grupos possuem um único objetivo: pautar os caminhos da esquerda. Essa arapuca
dá certo, redundando numa polarização dominada por discursos racistas,
homofóbicos, machistas, preconceitos de toda ordem e, em certa medida, acaba em
assassinatos políticos.
Ao
mesmo tempo incidem o discurso de eficiência e moralidade pública que objetiva
o falso fim da corrupção. Falso na medida em que os maiores difusores dos
discursos de ódio e moralidade pública estão envolvidos em grandes escândalos.
Essa é a armadilha montada para grande
parte da esquerda brasileira. Ela tem como objetivo direcionar o campo de luta
da esquerda e especialmente pautar seu campo de luta, afastando a mesma das
questões macroeconômicas (um projeto nacional-desenvolvimentista) e de
soberania nacional.
Mas
todas essas pautas, apesar de importantes e combatidas (devido a seus
argumentos repugnantes levantados pelos grupos ultraconservadores), são uma
cortina de fumaça. Uma distração que leva grande parte da esquerda para uma
discussão ideológica no âmbito da superestrutura. "Se queres prever o
futuro, estuda o passado", dizia Confúcio.
Ao tratar da superestrutura, a esquerda
brasileira distrai-se e abandona a essência das grandes questões nacionais, ou
seja, aquelas no âmbito da infraestrutura e que interessam ao imperialismo.
Quais
são estas questões? Os elementos primordiais da nossa macroeconomia nacional,
como as privatizações e concessões de serviços públicos à iniciativa privada, a
ampliação do exército industrial de reserva, a diminuição dos salários, a
flexibilização da legislação trabalhista, o aumento da jornada de trabalho, o
fim de um sistema previdenciário público e a transferência para um regime
privado repleto de riscos e falcatruas, a diminuição da assistência social, o
aumento do desemprego, a baixa do PIB.
Além
destas, a geoeconomia mundial e a geopolítica global, como a formação dos BRICS,
a liderança do Brasil na América Latina, a soberania sobre o pré-sal e os
investimentos decorrentes dele em educação e saúde, ampliação do comércio e das
relações internacionais do Brasil.
E
ainda o avanço imperialista, com seu interesse na expansão dos ganhos
financeiros dos Estados Unidos em detrimento das suas perdas produtivas e de
inovação e sua resistência a uma contra hegemonia na qual o Brasil estava em
processo de aproximação, isto é, a China.
Por
fim, o neoliberalismo e as bases políticas para uma maior ampliação da
financeirização da economia, com a manutenção do dólar como principal moeda de
trocas internacionais e todos os elementos de coerção extra-econômicas
possíveis para ampliar as bases comerciais globais de circulação do capital em
prol do império e seus associados.
Portanto,
a prisão de Lula faz parte de toda essa orquestração. Personagens como juízes,
militares, rentistas, grupos de mídia e outros são agentes internos associados
a essa lógica imperialista. Historicamente cooptados, fazem o jogo do império e
entregam a soberania nacional por algumas migalhas.
Muitos outros personagens não passam
de “bobos da corte” em busca dos restos jogados aos cães pelo “rei”. Estão
nessa categoria o pobre de direita e uma parcela significativa da classe média.
Ludibriados, mas convenientemente na batalha das elites econômicas e políticas
nacionais e internacionais.
São
mercenários empobrecidos ou típicas “buchas de canhão”, na frente da batalha,
para receber os primeiros tiros. As “buchas de canhão” integram a nossa
história colonial, imperial e republicana.
A
esperança é que parte desses grupos denominados aqui de “bobos da corte”
começaram a acordar e percebem a sua utilidade funcional para um sistema falido
e que, por conseguinte, também irá oprimi-los.
A
questão é quanto tempo demorará para acordarmos? Será que perceberemos a
essência dos fatos em vez de sua mera aparência? Antes tarde do que nunca? E
esse tardar virá com mudanças demoradas, de cima para baixo, realizadas pela
burguesia, uma mera revolução passiva, ou enfrentaremos uma verdadeira
revolução?
Para essa última as perspectivas
históricas estão confusas e muito pouco latentes.
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