Neste texto, através de
Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber, examinaremos as diferentes perspectivas
adotadas por esses para analisar o processo de constituição da sociedade e a
maneira como os indivíduos se relacionam.
Entre os estudiosos que se
preocuparam em analisar a relação do indivíduo com a sociedade, destacam-se
autores clássicos da Sociologia, como Karl Marx, Émile Durkheim, Max Weber,
Nobert Elias e Pierre Bourdieu. Neste texto examinaremos as diferentes
perspectivas adotadas por esses assuntos para analisar o processo de
constituição da sociedade e a maneira como os indivíduos se relacionavam.
KARL MARX: OS INDIVÍDUOS E
AS CLASSES SOCIAIS
Para o alemão Karl Marx
(1818 — 1883), os indivíduos devem ser analisados de acordo com o contexto de
suas condições e situações sociais, já que produzem sua existência em grupo. O
homem primitivo, segundo ele, diferenciava-se dos outros animais não apenas
pelas características biológicas, mas também por aquilo que realizavam no
espaço e na época em que vivia. Caçando, defendendo-se e criando instrumentos,
os indivíduos construíram sua história e sua existência de grupo social.
Ainda segundo Marx, o
indivíduo isolado só apareceu efetivamente na sociedade de livre concorrência,
ou seja, no momento em que as condições históricas criaram os princípios da
sociedade capitalista. Tomemos um exemplo simples dessa sociedade. Quando um
operário é aceito numa empresa, assina um contrato do qual consta que deve
tantas horas por dia e por semana e que tem determinados deveres e direitos,
além de um salário mensal. Nesse exemplo, existem dois indivíduos se
relacionando: o operário, que vende sua força de trabalho, e o empresário, que
compra essa força de trabalho. Aparentemente se trata de um contrato de compra
e venda entre iguais. Mas só aparentemente, pois o “vendedor” não escolhe onde
nem como vai trabalhar. As condições já estão impostas pelo empresário e pelo
meio social.
Essa relação entre os
dois, no entanto, não é apenas entre indivíduos, mas também entre classes
sociais: a operária e a burguesa. Eles só se relacionam, nesse caso, por causa
do trabalho: o empresário precisa de força de trabalho do operário e este
precisa de salário. As condições que permitem esse relacionamento são definidas
pela luta que se estabelece entre as classes, com a intervenção do Estado, por
meio das leis, dos tribunais ou da polícia.
Essa luta vem se
desenvolvendo há mais de duzentos anos em muitos países e nas mais diversas
situações, pois empresários e trabalhadores têm interesses opostos. O Estado
aparece aí para tentar reduzir o conflito, criando leis que, segundo Marx,
normalmente são a favor dos capitalistas.
O foco da teoria de Marx
está, assim, nas classes sociais, embora a questão do indivíduo também esteja
presente. Isso fica claro quando Marx afirma que os seres humanos constroem sua
história, mas não da maneira que querem, pois existem situações anteriores que
condicionam o modo como ocorrem a construção. Para ele, existem condicionantes
estruturais que levam o indivíduo, os grupos e as classes para determinados
caminhos; mas todos têm capacidade de reagir a esses condicionamentos e até
mesmo de transformá-los.
Marx se interessou por
estudar as condições de existência de homens reais na sociedade. O ponto
central de sua análise está nas relações estabelecidas em determinada classe e
entre as diversas classes que compõem a sociedade. Para ele, só é possível
entender as relações dos indivíduos com base nos antagonismos, nas contradições
e na complementaridade entre as classes sociais. Assim, de acordo com Marx, a
chave para compreender a vida social contemporânea está na luta de classes, que
se desenvolve à medida que homens e mulheres procuram satisfazer suas
necessidades, “oriundas do estômago ou da fantasia”.
ÉMILE DURKHEIM: AS INSTITUIÇÕES E O INDIVÍDUO
Para o fundados da escola
francesa de Sociologia, Émile Durkheim (1858 — 1917), a sociedade sempre
prevalece sobre o indivíduo, dispondo de certas regras, normais, costumes e
leis que asseguram sua perpetuação. Essas regras e leis independem do indivíduo
e pairam acima de todos, formando uma consciência coletiva que dá o sentido de
integração entre os membros da sociedade. Elas se solidificam em instituições,
que são a base da sociedade e que correspondem, nas palavras de Durkheim, a
“toda crença e todo comportamento instituído pela coletividade”.
A família, a escola, o
sistema jurídico e o Estado são exemplos de instituições que congregam os
elementos essenciais da sociedade, dando-lhes sustentação e permanência.
Durkheim dava tanta importância as instituições que definia a sociologia como
“a ciência das instituições sociais, de sua gênese e de seu funcionamento”.
Para não haver conflito ou desestruturação das instituições e,
consequentemente, da sociedade, a transformação dos costumes e normas nunca é
feita individualmente, mas vagarosamente através das gerações e gerações.
A família da sociedade
está justamente na herança passado por intermédio da educação às gerações
futuras. Essas herança são os costumes, as normas e os valores que nossos pais
e antepassados deixaram. Condicionando e controlando pelas instituições, cada
membro de uma sociedade sabe como deve agir para não desestabilizar a vida
comunitária; sabe também que, se não agir de forma estabelecida, será
repreendido ou punido, dependendo da falta cometida.
O sistema penal é um bom
exemplo dessa prática. Se algum indivíduo comete determinado crime, deve ser
julgado pela instituição competente — o sistema judiciário -, que aplica a
penalidade correspondente. O condenado é retirado da sociedade e encerrado em uma
prisão, onde deve ser reeducado (na maioria das vezes não é isso que acontece)
para ser reintegrado ao convívio social.
Diferentemente de Marx, que vê a contradição e o conflito como elementos
essenciais da sociedade, Durkheim coloca a ênfase na coesão, integração e
manutenção da sociedade. Para ele, o conflito existe basicamente pela anomia,
isto é, pela ausência ou insuficiência da normatização das relações sociais, ou
por falta de instituições que regulem essas relações. Ele considera o processo
de socialização um fato social amplo, que regulamentem essas relações. Ele
considera o processo de socialização um fato social amplo, que dissemina as
normas e valores gerais da sociedade — fundamentais para a socialização das
crianças — e assegura a difusão de ideias que formam um conjunto homogêneo,
fazendo com que a comunidade permaneça integrada e se perpetue no tempo.
MAX WEBER: O
INDIVÍDUO E A AÇÃO SOCIAL
O alemão Max Weber (1864 — 1920),
diferentemente de Durkheim, tem como preocupação central compreender o
indivíduo e suas ações. Por que essas pessoas tomam determinadas decisões?
Quais são as razões para seus atos? Segundo esse autor, a sociedade existe
concretamente, mas não é algo externo e acima das pessoas, e sim o conjunto de
ações dos indivíduos relacionando-se reciprocamente. Assim, Weber, partindo do
indivíduo e de suas motivações, pretende compreender a sociedade como um todo.
O conceito básico para Weber é o de
ação social, entendida como o ato de se comunicar, de se relacionar, tendo
alguma orientação quanto às ações dos outros. “Outro”, no caso, pode significar
tanto um indivíduo apenas por vários, indeterminados e até desconhecidos. Como
o próprio Weber exemplifica, o dinheiro é um elemento de intercâmbio que alguém
aceita no processo de troca de qualquer bem e que outro indivíduo utiliza
porque sua ação está orientada pela expectativa de que outros tantos,
conhecidos ou não, estejam dispostos a também aceitá-la como elemento de troca.
Seguindo esse raciocínio, Weber
declara que a ação social não é idêntica a uma ação homogênea de muitos
indivíduos. Ela dá um exemplo: quando estão caminhando na rua e começa a
chover, muitas pessoas abrem seus guarda-chuvas ao mesmo tempo. A ação de cada
indivíduo não está orientada pela dos demais, mas sim pela necessidade de
proteger-se da chuva.
Weber também diz que a ação social
não é idêntica a uma ação influenciada, que ocorre muito frequentemente nos
chamados fenômenos de massa. Quando há uma grande aglomeração, quando se reúnem
muitos indivíduos por alguma razão, estes agem influenciados por comportamentos
grupais, isto é, fazem determinadas coisas porque todos estão fazendo.
Max Weber, ao analisar o modo como os indivíduos agem e levando em conta
a maneira como eles orientam suas ações, agrupou as ações individuais em quatro
grandes tipos, a saber: ação tradicional, ação efetiva, ação racional com relação
a valores e ação racional com relação a fins.
A ação tradicional tem por base um
costume arraigado, a tradição familiar ou um hábito. É um tipo de ação que se
adota quase que automaticamente, reagindo a estímulos habituais. Expressões
como “Eu sempre fiz assim” ou “Lá em casa sempre se faz desse jeito”
exemplificam tais ações.
Ação efetiva tem por fundamentalmente
os sentimentos de qualquer ordem. O sentido da ação está nela mesmo. Age
efetivamente quem satisfaz suas necessidades, seus desejos, sejam eles de
alegria, de gozo, de vingança, não importam. O que importa é dar vazão às
paixões momentâneas. Age assim aquele indivíduo que diz “Tudo pelo prazer” ou
“O principal é viver o momento “.
Ação racional com relação a valores
fundamenta-se em convicções, tais como o dever, a dignidade, a beleza, a
sabedoria, a piedade ou a transcendência de uma causa, qualquer que seja seu
gênero, sem levar em conta as consequências previsíveis. O indivíduo age
baseado naquelas convicções e crê que tem certo “mandado” para fazer aquilo. Se
as consequências forem boas ou ruins, prejudiciais ou não, isso não importa,
pois ele age de acordo com aquilo em que acredita. Age dessa forma o indivíduo
que diz: “Eu acredito que a minha missão aqui na Terra é fazer isso” ou “O
fundamental é que nossa causa seja vitoriosa”.
A ação racional com relação a afins
fundamenta-se numa avaliação da relação entre meios e fins. Nesse tipo de ação,
o indivíduo pensa antes de agir em uma situação dada. Age dessa forma o
indivíduo que programa, pesa e mede as consequências, e afirmar: “se eu fizer
isso ou aquilo, pode acontecer tal coisa; então, vamos ver qual é a melhor
alternativa” ou “creio que seja melhor conseguir tais elementos para podermos
atingir aquele alvo, pois, do contrário, não conseguiremos nada e só gostaremos
energia e recursos”.
Para Weber, esses tipos de ação
social não existem em estado puro, pois os indivíduos, quando agem no
cotidiano, mesclam alguns ou vários tipos de ação social. São os “tipos
ideais”, construções teóricas utilizadas pelo sociólogo para analisar a
realidade.
Como se pode perceber, para Weber, ao
contrário do que defende Durkheim, as normas, os costumes e as regras sociais
não são algo extremo ai indivíduo, mas estão internacionalizadas, e, como base
no que traz dentro de si, o indivíduo escolhe condutas e comportamentos,
dependendo das situações que se lhe apresentam. Assim, as relações sociais
consistem na probabilidade que se aja socialmente com determinado sentido,
sempre numa perspectiva de reciprocidade por parte dos outros.
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