quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Brasil: república velha – oligarquia

 Oligarquias no poder

            Após a instabilidade dos dois governos militares da república, um civil, Prudente de Morais, assumiu o cargo de presidente em 1894. As alianças entre as oligarquias estaduais passaram, então, a determinar os rumos da política nacional. Por isso, os primeiros anos do regime republicano no Brasil ficaram conhecidos como República Oligárquica.

Política dos governadores

            O controle do governo pelas oligarquias era garantido por meio da política dos governadores. Arquitetada por Campos Sales, o segundo presidente civil da república, essa política funcionava como um sistema de alianças entre o governo federal e os governos estaduais, que eram controlados pelas oligarquias locais. O governo federal oferecia favores políticos e se comprometia a não intervir nas disputas locais desde que os presidentes dos estados conseguissem eleger deputados e senadores que apoiassem o presidente da república. As eleições eram diretas, geralmente abertas e fraudulentas.

Para esse esquema funcionar, criou-se a Comissão Verificadora de Poderes, que era controlada por pessoas ligadas ao presidente e encarregada de diplomar os deputados eleitos. Com esse objetivo, a comissão excluía da lista de eleitos os políticos da oposição que haviam vencido as eleições, impedindo-os de chegar ao Congresso.

Coronelismo e currais eleitorais

            A figura dos coronéis tem origem na Guarda Nacional, criada em 1831 para manter a ordem pública. As tropas eram constituídas por homens livres e proprietários de terras, que deviam possuir determinada renda.

Na Primeira República, a Guarda Nacional foi submetida ao exército e desmobilizada, mas o termo “coronel” continuou a designar os homens poderosos dos municípios, proprietários de terras e influentes na política local.

            Os coronéis estavam no topo da hierarquia política local. Mediavam conflitos, ofereciam proteção, perseguiam os opositores e negociavam apoio a governantes estaduais e nacionais. Nas eleições, os coronéis conseguiam os votos do eleitorado por meio da violência ou de troca de favores, como a oferta de emprego, roupas, alimentos, medicamentos etc. A lei não exigia o sigilo do voto e, por isso, era mais fácil coagir o eleitorado. Esse tipo de voto ficou conhecido como voto de cabresto. O nome fazia referência ao “cabresto”, peça de couro colocada na cabeça de animais para controlá-los.

            Não se deve imaginar, porém, que as camadas populares tivessem uma atitude totalmente passiva diante da política no período. Alguns historiadores afirmam que o povo se mobilizou para exercer o direito ao voto e conquistar melhores condições de vida: falsificava documentos para cumprir as exigências eleitorais relacionadas a residência, profissão e idade, bem como encaminhava petições aos órgãos públicos para obter esse direito.

Conflitos rurais na Primeira República

            No início do período republicano, o Brasil era um país tipicamente agrário. Calcula-se que cerca de 70% da população habitava o campo nesse período. A maioria dos trabalhadores rurais vivia da pequena lavoura de subsistência em terras que, na maioria das vezes, pertenciam a um grande proprietário. Esse cenário contribuiu de forma significativa para a ocorrência de conflitos sociais na zona rural.

Guerra de Canudos

            Antônio Vicente Mendes Maciel, mais conhecido como Antônio Conselheiro, peregrinou pelo sertão nordestino durante anos pregando mensagens religiosas à população pobre. Com o tempo, muitas pessoas juntaram-se a ele e passaram a segui-lo em suas peregrinações. Em 1893, o grupo liderado por Antônio Conselheiro se fixou em Canudos, no norte da Bahia. O arraial, batizado de Belo Monte, cresceu rapidamente

e reuniu muitos sertanejos famintos, sem emprego nem perspectivas de vida, além de pessoas que fugiam das perseguições dos coronéis.

            O crescimento de Canudos incomodou proprietários de terras, líderes da Igreja Católica e autoridades políticas, que consideravam a comunidade uma ameaça ao poder dos latifundiários, da Igreja e até mesmo da república recém-instalada. Assim, em 1896, o governo da Bahia enviou uma expedição armada para o local. Antes de atingir a região, porém, os soldados foram cercados e desmobilizados pelos conselheiristas. No ano seguinte, o governo federal enviou duas outras expedições, que foram novamente derrotadas.

            A população de Canudos não resistiu, porém, à quarta expedição. As forças federais iniciaram o ataque em junho de 1897 e, no início de outubro, tomaram e destruíram o arraial.

Cangaço: uma guerra no sertão

            A formação de bandos armados que percorriam o sertão nordestino é muito anterior à Primeira República. Esses bandos provavelmente tiveram origem na disputa entre famílias poderosas ou senhores de terras da região no final do século XVIII. Os homens que compunham esses grupos, chamados de cangaceiros, eram sustentados por chefes políticos locais. Mais tarde, porém, passaram a atuar de maneira independente, atacando fazendas, saqueando o comércio e matando de acordo com suas regras.

            O cangaceiro que se tornou mais famoso foi Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião. Seu bando percorreu o sertão do final da década de 1910 até 1938, quando ele e outros cangaceiros foram mortos pela polícia, numa emboscada realizada na Fazenda Angicos, no interior do estado de Sergipe, esconderijo utilizado pelo grupo.

            Embora frequentemente cometessem roubos, pilhagens e assassinatos, os cangaceiros eram muitas vezes vistos como heróis pelos sertanejos, sobretudo por terem coragem de enfrentar a polícia e os coronéis locais. O cangaço perdeu força no início da década de 1940. A repressão dos governos se tornou mais eficiente, e a criação de vagas de trabalho nas indústrias do Sudeste absorveu muitos sertanejos que até então encontravam no cangaço um meio de sobrevivência.

            O cangaço é objeto de diferentes interpretações. Alguns historiadores o consideram uma reação rebelde às dificuldades sociais e políticas da região, como a fome, a miséria, a seca e a opressão exercida pelos coronéis, na perspectiva de transformar essa situação. Outros pesquisadores veem os cangaceiros como bandidos, que não tinham nenhum projeto de transformação social e praticavam crimes para sobreviver.

Guerra do Contestado

            A Guerra do Contestado (1912-1916) ocorreu na divisa dos estados do Paraná e de Santa Catarina. Em 1908, o governo federal, comandado por Afonso Pena, permitiu que empresas estrangeiras se instalassem na região para a construção de uma ferrovia, ligando São Paulo ao Rio Grande do Sul, e para a exploração de madeira. Os pequenos proprietários, que viviam na área havia quase um século, foram expulsos do local.

            Nesse contexto, sobressaiu-se a figura de José Maria de Jesus. Com um discurso de salvação da alma, ele conquistou centenas de pessoas que buscavam melhores condições de vida, inclusive operários que trabalhavam na construção da ferrovia, e organizou uma comunidade igualitária chamada Monarquia Celeste, no centro-sul de Santa Catarina.

            Assim como no caso de Canudos, o crescimento da comunidade alarmou os governos de Santa Catarina e do Paraná. Temerosos de que uma revolta popular explodisse, enviaram tropas para combater o movimento no final de 1912. Nesse confronto, José Maria foi assassinado, mas sua morte não impediu que a luta política e religiosa continuasse. Os rebeldes só foram derrotados em 1916, com a ajuda do governo federal.

O Tenentismo e a Coluna Prestes

            A política oligárquica que regia o Brasil incomodou alguns grupos da sociedade, como os jovens oficiais do exército. Com o objetivo de moralizar as instituições políticas, eles organizaram uma revolta no dia 5 de julho de 1922, partindo do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro. O movimento, porém, foi combatido pelas forças fiéis ao governo. A Revolta dos 18 do Forte, como ficou conhecida, deu início a um conjunto de mobilizações militares nos anos 1920: o tenentismo. O movimento, no entanto, não foi homogêneo, pois havia muitas divergências entre seus grupos.

            Em 1924, ocorreram outros levantes tenentistas em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Os participantes desses movimentos defendiam mais participação do exército nas decisões políticas, melhorias na educação pública e no sistema de justiça, criação de uma legislação social, liberdade sindical e de imprensa, eleições livres, voto secreto e reforma tributária.

            As duas revoltas foram violentamente reprimidas, mas foi organizado outro movimento: a Coluna Miguel Costa-Prestes, ou simplesmente Coluna Prestes. Composto de participantes dos levantes paulista e gaúcho e liderado por Luís Carlos Prestes, o movimento escapou da repressão armada nos estados e avançou pelo interior do Brasil.

            A Coluna Prestes chegou a reunir cerca de 1.600 pessoas, que percorreram mais de 20 mil quilômetros entre 1924 e 1927. Herdeira do tenentismo, seu discurso insistia na crítica ao então governo de Artur Bernardes. A Coluna enfrentou tanto as tropas do exército quanto as milícias locais e os bandos armados. Em fevereiro de 1927, bastante fragilizada, a Coluna Prestes cruzou a fronteira brasileira com a Bolívia e lá depôs suas armas.

 

Exercícios (Copiar as perguntas e responder na folha do caderno para ENTREGAR)

1)     Explique, com suas palavras, os termos abaixo.

a)     Política dos governadores.

b)     República Oligárquica.

c)     Voto de cabresto.

 

2)     Os tenentistas defendiam a política oligárquica no Brasil. Essa afirmação está correta? Por quê?

 

3)     Quais eram as principais reivindicações dos participantes dos levantes tenentistas ocorridos em São Paulo e no Rio Grande do Sul, em 1924?