terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Reportagem: A esquerda e o indivíduo

A esquerda e o indivíduo



Por Cynara Menezes
Somos de esquerda e pensamos, em primeiro lugar, na coletividade. É tão natural na esquerda priorizar o coletivo quanto é, na direita, priorizar o individualismo. Para a esquerda, o “nós” vem sempre antes; para a direita, se a farinha é pouca, meu pirão primeiro. Mas eu tenho a impressão que a gente tem pecado em não olhar mais para o indivíduo, em não mostrar uma atenção especial para com o crescimento individual.

Vejam bem: não estou propondo que abandonemos a prioridade ao bem-estar coletivo. Isto tem sempre que ser a meta do cidadão de esquerda, lógico. O que estou propondo é, somado a isso, que tracemos estratégias para nos aproximar dos que querem crescer e melhorar de vida enquanto pessoas, individualmente falando. Sobretudo conseguir transmitir que é possível ser de esquerda e ao mesmo tempo desejar ascensão profissional e social. Por que não?

Afinal, nos últimos anos, é justamente o que estivemos oferecendo às populações mais humildes, se considerarmos que o PT é um partido de esquerda: a oportunidade de galgar degraus na pirâmide social. Ora, uma vez que sobem na vida, por que estas pessoas se afastam da esquerda? Por influência da mídia, por síndrome de Estocolmo, por muitos fatores, mas também porque não têm se identificado com a esquerda. Até porque nós também não nos identificamos com este cidadão que ascendeu.

O “empreendedor”, seja ele pequeno ou grande, infelizmente se sente mais acolhido na direita, que obteve êxito na disseminação da falácia da “meritocracia”. Nós sabemos que a direita mente ao enaltecer as “oportunidades iguais”; nós sabemos que a grande maioria dos que usam a palavra “meritocracia” não tiveram mérito algum em seus sucessos, a não ser por terem herdado dinheiro para chegar lá. Nós sabemos disso, mas os que foram seduzidos pela “meritocracia”, não.
          
Devia ser o contrário, porque somos nós, de esquerda, que valorizamos quem rala na vida para conseguir ser alguém. Somos nós, inclusive, que achamos importante a mobilidade social, capaz de combater as desigualdades – a direita, pelo contrário, não só não está nem aí como trabalha para que tudo esteja onde sempre esteve. Os pobres “no lugar dos pobres” e os ricos “no lugar dos ricos”. Nós, não: queremos que os pobres melhorem de vida e que as riquezas não estejam tão concentradas nas mãos de poucos.

Mas o fato é que, hoje, se uma pessoa pobre quiser estudar, trabalhar e se esforçar para “ser alguém” encontrará eco no discurso enganador da direita e não no da esquerda. Que inversão é essa? Ao mesmo tempo que a esquerda (o PT, no caso) forneceu as condições para incluir milhões de pessoas no mercado de consumo e na universidade, estas condições são agora rejeitadas por quem mais precisa ou precisou delas...

Estamos carentes de ideias novas. O turbilhão de denúncias envolvendo o PT nos deixou estacionados. Faz tempo que não formulamos, não propomos nada ousado, arrojado. Antes de chegar ao poder, tínhamos tantas propostas inovadoras... Para onde elas foram? A máquina de iludir da direita conseguiu convencer os incautos de que tem vanguarda a oferecer ao mesmo tempo que leva o País para trás. A enganação é tal que arrancam direitos, levando trabalhadores ao passado, mas convencidos de que isto é o futuro.

Como nos aproximar destes jovens ambiciosos e sem recursos familiares que estão caindo na fábula da meritocracia, convencidos por gente que nunca trabalhou duro? Seria a ambição incompatível com ser de esquerda? Não acho. Todo mundo tem ambições na vida e isso nada tem a ver com ideologia. O que tem a ver com ideologia é a forma como esta ambição vai se concretizar e como o ambicioso em questão vai encontrar seu lugar no mundo.

Acho que a esquerda tem que entrar na disputa pelo pequeno empresário, pelo jovem que quer ter um startup, tem que passar a olhar com mais simpatia o empreendedor. Não há incoerência em ser de esquerda e querer ter sucesso na vida. Demos as condições para que as pessoas estudassem e comprassem; agora precisamos oferecer propostas que as ajudem a crescer, a se desenvolver e ao mesmo tempo permanecer fiéis a um modo esquerdista de ver o mundo.

O que nos diferenciará, porém, da direita, dos “liberais”? A maneira como vemos estes empreendimentos, por exemplo. O empresário liberal quer pagar o menos possível para o empregado; nós não acreditamos em empresas em que todo mundo não cresça junto. Aos liberais pouco importa se sua empresa terá alguma função social ou de defesa do meio ambiente; para nós, não há razão para uma empresa existir se não for assim.

A realidade atual indica claramente que não podemos abrir mão da parcela da sociedade que almeja o crescimento individual. Melhor: não existe razão plausível para estarmos distantes dela. Não há nada mais à esquerda do que alguém sair do nada e ascender socialmente. São trabalhadores que merecem todo o respeito. Temos que descobrir como conscientizar estas pessoas sobre o pouco que a direita tem de fato a oferecer a elas. Mas, para isso, é necessário que nós também sejamos capazes de lhes oferecer algo.


Cynara Menezes é jornalista e editora do blog Socialismo Morena (socialistamorena.com.br)

Fonte: http://www.carosamigos.com.br/index.php/colunistas/191-cynara-menezes/9251-a-esquerda-e-o-individuo


7 comentários:

  1. CPMG-HCR
    ALUNA: MARIELLY PAULA DO ESPIRITO SANTO SÉRIE:3 M N:21
    Análise da reportagem
    Do meu ponto de vista, a esquerda é o campo político daqueles que não aceitam desigualdades que se projetem sobre o desenvolvimento. Empenham-se na construção de sociedades na escala, livres de racismo, homofobia e intolerância religiosa. Não aceitam a redução da liberdade, senão nos limites ditados pela necessidade de fazê-la igualmente acessível aos outros. A forma de vida idealizada por uma esquerda libertária, com a qual me identifico. É a forma de vida na descrição de si mesmo, independente de classe social. É aquela na qual a individualidade é experimentada com radicalidade criativa e não implica individualismo.

    ResponderExcluir
  2. Mauricio Junior de Oliveira4 de março de 2017 às 17:27

    CPMG-HCR
    ALUNO MAURICIO JUNIOR DE OLIVEIRA SERIE 3B N`22

    Do meu ponto de vista, a política de esquerda é uma política feita pro povo, a política de esquerda favoreceu que os pobres se erguesse e que as favelas tivesse voz, O PT governou o brasil por mais de 12 anos, Porém não foi só o governo de esquerda que favoreceu os brasileiros, os partidos de direita ajudou muito e ajuda até hoje com algumas emendas feitas por presidentes do partido de direita como exemplo o governo de J.K (cinquenta anos em cinco) ... etc.
    Na minha opinião não devemos falar sou de "DIREITA" ou sou de "ESQUERDA" você dever ser Brasil e não ser partido pois todos os partidos querendo ou não estar envolvidos em escândalos e mensalões devemos lutar pelo Brasil e não por política. De acordo com o filosofo inglês Homas Hobbes na frase O homem é o lobo do homem se encaixa na política pois o homem não nasce corrompido quem corrompem o homem é o próprio homem.

    ResponderExcluir
  3. “Esquerda” e “direita” são ideologias opostas com relação a diversos problemas, cuja solução pertence à ação política. Politicamente, os jogos de interesses são muitos. Os diversos partidos têm entre si convergências e divergências. O maniqueísmo (ideia baseada numa doutrina religiosa que afirma existir o dualismo entre dois princípios opostos, normalmente o bem e o mal) não é a forma adequada de se encarar essa distinção política: quem não é de direita é de esquerda ou vice-versa. Pois, entre o preto e o branco, não existe apenas o cinza, mas sim um arco-íris de “colorações políticas”… Luana de Oliveira Silva 3ºC

    ResponderExcluir
  4. Weysser Monteiro Velasco 3G7 de março de 2017 às 23:13

    A Maioria dos argumentos da "Esquerda" são resumidos em prol do capital,uma lógica bastante economicista,tudo acontece por causa da economia,eles desconsideram a existência de Deus,questão do materialismo.claro que a "Esquerda" tem sua parte útil,como a ideia de comunidades existencial autônoma,mas desconsideram muito a questão da moral e da ética para eles quererem o fim de todas as instituições,ou seja,qualquer meio pode ser alcançado para isso e isso exclui de certa forma a moral e a ética.Defendem o aumento da atuação do estado,eu acho que hoje o governo regula muito a nossa economia muito serviço,então só quem faz o serviço é quem é "amiguinho" do governo e paga uma certa propina,na minha opinião a solução seria,em vez de tirar as empresas e deixar mais governo que é sempre um "poderoso" que vai definir as coisas e ele vai se corromper,é melhor pormos mais empresas para elas concorrerem entre si,o que eu acho,as nossas linhas telefônicas são reguladas pela ANATEL por isso são caras e são horríveis,porque só entra no mercado quem passa pela regulação da ANATEL,mas se você for pegar aplicativo como o Waze,Whatsapp,ate mesmo o Netflix,não são regulados,então são baratos e são maravilhosos,então a regulação faz mal para nós,só existe um jeito de privatizar,não adianta privatizar e regular,porque ai só vai entrar quem é amigo do governo,aonde tem regulação o serviço é caro e horrível,onde não tem regulação o serviço é barato e bom,aí que entra um dos erros da "esquerda" mais atuação do estado sendo que deveria ser menos estado. -Weysser Monteiro Velasco 3G

    ResponderExcluir
  5. CPMG-HUGO DE CARVALHO RAMOS
    BRUNA CRISTINA R. MARTINS
    3ANO 'J' (NOTURNO)
    *A ESQUERDA E O INDIVÍDUO
    Compreende-se que, entre posicionamento político, partidário e ideológico esquerda ou direita, os dois defendem teses que resultam para o bem sócial ao final, um defende a tese realizada bem radical para enfim ter mudança no social, outro ja parte pelo senso crítico individual, igualitária para o crescimento do indivíduo é assim buscando mudanças na sociedade.
    Portando,acredito que para a mudança acontecer, será preciso a junção, uma conscientização da sociedade (partido direita) é a evolução do indivíduo, bem radical (partido esquerda). A conscientização partidária da esquerda leva ao indivíduo, um crescimento individual mudanto todo seu âmbito a volta. Crescimento social, a primeira analogia é muito simples, não carecendo de esclarecimento;
    Os factos que nos mostram o segundo terão que apresentados.
    Crescimento social por conseguinte, tal como crescimento de organismos vivos, revela-nos a característica fundamental da evolução sob um duplo aspecto. Integração manifesta-se quer na formação de uma nação maior e no processo dessa massa em direçao a coisa resultante da proximidade das partes.

    ResponderExcluir
  6. Caio Fernando Faleiro Muniz13 de março de 2017 às 10:04

    CPMG-HCR
    Aluno: Caio Fernando Faleiro Muniz 3º I nº3

    Do meu ponto de vista, se declarar de "esquerda" e "direita" é muito superficial. Os problemas do Brasil atualmente são muitos, e se declarar de um lado só porque ele apoia uma opinião sua não é muito inteligente.
    Realmente existe muita desigualdade, muita gente rica que nem precisou trabalhar duro para conseguir, mas a "direita" também tem suas partes boas, um pensamento capitalista na minha opinião é aceitável, se no mundo houvesse igualdade total, acho que não teríamos pelo que lutar, seja ter dinheiro, uma empresa de sucesso e até ter funcionários para trabalharem por você.
    Acho que acima de tudo devemos defender o Brasil e procurar ter competência no serviço, melhorando assim, toda a fiscalização política pois como diz o ditado "a ocasião faz o ladrão", se não há brechas para a corrução, não há corrupção. A solução só consegue ser alcançada se todos lutarem por ela.

    ResponderExcluir
  7. Lauro Branquinho Nº17 3ºH

    Em relacão as doutrinas de esquerda e direita creio que não deveria haver "conflitos" ideológicos, pois uma é complementar a outra. Essa tese é válida porque uma delas visa o indivíduo, já a outra o coletivo, sendo assim as duas necessariamente andariam lado à lado.
    Com essa junção provavelmente teríamos um convívio em sociedade mais harmônico, onde o todo cidadão poderia seguir suas ambicões com as mesmas probabilidades de sucesso. Como consequência do nossa geração, a igualdade social é uma coisa bem, bem distante ou até impossível. Porém, mesmo com muitas riquezas concentradas em poucos mãos, os pobres teriam a possibilidade de ter sua ascensão econômica e política realizada.

    ResponderExcluir