Publicado em 27 de February de 2013 por Salete Monteiro
RESUMO
Este trabalho procura
mostrar as influências que sociedade exerce no indivíduo e como esta acaba por
legitimar sua ideologia dominante e desta forma, resulta na exclusão dos mais
desfavorecidos.
As vertentes
utilizadas, neste estudo, são baseadas nos pressupostos de Pierre Bourdieu, que
em sua trajetória desenvolveu teorias que explicitam a complexa relação entre
indivíduo e sociedade.
Outros autores, com a
mesma importância de Bourdieu serão utilizados e estes, compartilham das
mesmas ideias dele, descrevendo uma sociedade que determina uma simbologia
reprodutiva.
Assim, preconceitos,
discriminações são imputadas nos indivíduos que não conseguem os atributos
impostos por esta mesma sociedade dominante.
Convivência oculta de
uma dominação, que causa a falta de percepção de sua influência e que leva seus
indivíduos a agirem sem a percepção de fazerem o que ela impõe.
As Relações entre Indivíduo e Sociedade
Pierre Bourdieu foi
um dos sociólogos mais marcantes do século XX, com grande reconhecimento
mundial. Seus trabalhos são considerados inovadores e possuem influências de
autores como Karl Marx, em que seus conceitos são baseados na ideologia econômica
dominante que explora o proletariado, usurpando a mais valia (BONNEWITZ, 2003).
De acordo com Patrice
Bonnewitz (2003), Bourdieu herdou de Max Weber o conceito de legitimidade, ao
qual os membros da sociedade dominante, reconhecem e aceitam aquilo que são de
seu interesse maior e o torna legal, isto é, o processo de funcionamento dessa
legitimação faz com que à parte dominada aceite, se una aos dominantes,
concordando da mesma opinião sob uma ordem estabelecida.
De Emile Durkheim,
Bonnewitz (2003) escreve que Pierre Bourdieu sofreu influências, com relação a
compreensão da sociologia como uma ciência, caracterizando-a em pesquisadora
dos fatos sociais e estes desempenham poder coercitivo externo no indivíduo.
Amparado por estes
autores, Bourdieu relacionou o indivíduo com a sociedade. Essa relação não é
verdadeiramente dicotômica, pelo fato desse sujeito não ser completamente
mecanizado, sem vontade própria. Ele possui autodeterminação na construção de
sua visão de mundo, mas esta é operada sob a influência de classes dominantes,
fazendo-o agir segundo sua legitimidade, consciente dela ou não (PIOTTO, 2009).
Essa interação de
indivíduo com sociedade e da sociedade com indivíduo, para Bourdieu, gera o
senso comum, com valores organizados pela parte dominante, influenciando a
realidade vigente, o que resulta numa ideologia aceitável e justa, levando esse
sujeito a compreender o mundo em que está inserido, tornando-a imprescindível
para sua vida em sociedade (BONNEWITZ, 2003).
Nesse sentido
autor destaca em seu livro:
"... o sentido das ações mais
pessoais e mais "transparentes" não pertencem ao sujeito as realiza,
mas ao sistema completo de relações nas quais e pelas quais elas se
realizam (1)".
O movimento de vai e
vem dessas relações entre indivíduo e sociedade, perpassa a uma concepção
ilusória de mundo, em que percepções, gestos, ações e falas estão diretamente
ligadas com estruturas sociais dominantes, que constroem-na e acabem por
alienar esse mesmo indivíduo (NOGUEIRA E NOGUEIRA, 2004).
Bourdieu nomeia esse
movimento de senso comum e precisa haver uma ruptura dele, pois este, não
apresenta argumentos científicos que expliquem determinados fenômenos sociais,
que são criados e legitimados por categorias pertencentes à sociedade, em que
os sujeitos inseridos são capazes de justificarem suas ações, por meio das
"boas razões", com significações próprias de sua conduta, o que as
tornam incompletas e não totalmente falsas (BONNEWITZ, 2003).
Essa teoria de classes
bourdieusiana é agonística e dialética, por ser seletiva e classificatória, em
que seus agentes atuam para ascenderem a uma posição social mais destacável e
que corresponda a seus interesses mais profundos adquirindo o prestígio sonhado
(MENDES & SEIXAS, 2003).
Os estudos de Bourdieu
oportunizam uma reflexão mais profunda das relações sociais entre o indivíduo e
sociedade, captando o real sentido da função ideológica, torna legal e
arbitrária um sistema vigente e dominante, impondo implicitamente valores que
cumpram seus objetivos maiores, validando e reproduzindo com grandiosidade, as
desigualdades (FORTUNATO & STIVAL, 2008).
A sociedade é
analisada, pelo autor francês, sendo um conjunto de campos sociais, com
determinada autonomia e grandes lutas de classes, englobando um processo de
diferenciação que acaba distinguindo uma classe da outra, tendo como principal
objetivo a acumulação de capital que garanta a dominação do campo (BONNEWITZ,
2003).
Esse processo pode ser
visto na citação do autor sobre a análise de Bourdieu:
"Em termos analíticos, um
campo pode ser definido como uma rede ou uma configuração de relações objetivas
entre posições. Essas posições são definidas objetivamente em sua existência e
nas determinações que elas impõem aos seus ocupantes, agentes ou instituições,
por sua situação (situs) atual
e potencial na estrutura da distribuição das diferentes espécies de poder (ou
de capital) cuja posse comanda o acesso aos lucros específicos que estão em
jogo no campo e, ao mesmo tempo, por suas relações objetivas com as outras
posições (dominação, subordinação, homologia, etc). Nas sociedades altamente
diferenciadas, o cosmo social é constituído do conjunto destes microcosmos
sociais relativamente autônomos, espaços de relações objetivas que são o lugar
de uma lógica e de uma necessidade específica e irredutíveis às que regem os
outros campos. Por exemplo, o campo artístico, o campo religioso ou o campo
econômico obedecem a lógicas diferentes (2)."
Esse
trecho explicita que as relações de força são resultados das lutas entre as
classes sociais por maior acumulação de capital, pois assim garantirão a
dominação do campo, tornando-se espaço de forças opostas, em que os indivíduos
dominantes elaborarão estratégias para resguardar a dominação que possuem e
conquistar outras mais, de seus interesses (BONNEWITZ, 2003).
Para Nogueira e
Nogueira(2004), Bourdieu escreve que essas ideologias são olhares distorcidos
de uma realidade legitimada por uma classe social dominante, com preocupação em
seus interesses específicos, conspirando para as desigualdades entre as classes
sociais, o que resulta na exclusão dos indivíduos que fazem parte dela.
Em seu livro "A
Reprodução", escrito com Jean Claude Passeron (2011), Pierre Bourdieu,
embasado em Marx, Durkheim e Weber escreve que as relações entre indivíduo e
sociedade, são influenciadas polo poder de dominação de um sobre o outro e este
poder é apresentado por diferentes formas, seja ela política, econômica,
religiosa ou até mesmo escolar.
Essa ordem social torna
visível à imagem da ideologia dominante e seus efeitos, que provocam o
reconhecimento dos dominados, resultando na legitimação da dominação,
perpetuando o poder como relações de força (BOURDIEU E PASSERON , 2011).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pierre Bourdieu é um
contribuinte notório, para o entendimento das relações existentes entre
indivíduo e sociedade.
Uma relação dialética,
pois ao mesmo tempo que este indivíduo se deixa influenciar pela sociedade
dominante, ele possui livre arbítrio para agir conforme suas próprias vontade.
Essa interação é somada
por uma ideologia dominante, em que engloba grandes lutas entre classes sociais
diferenciadas, que acaba na distinção de uma da outra, por meio das relações de
poder existentes na realidade vigente de cada uma.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BOURDIEU, Pierre, PASSERON. Jean
Claude: A reprodução: elementos para um teoria do sistema de
ensino. Tradução de Reynaldo Bairão; revisão de Pedro Benjamin Garcia
e Ana Maria Baeta. 4 ed. - Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
BONNEWITZ, Patrice. Primeiras
lições sobre a sociologia de Pierre Bourdieu. Tradução de Lucy
Magalhães - Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
MENDES. José Manoel, SEIXAS. Ana
Maria. Escola, desigualdades sociais e democracia: As classes sociais e
a questão educativa em Pierre Bourdieu.
www.fpce.up.pt/revistaesc/ESC19/19-4pdf.
Disponível em 28/11/2011 às 9h15min.
NOGUEIRA, Maria Alice, NOGUEIRA,
Claudio M. Martins. Bourdieu & a Educação, 3 ed. Belo
Horizonte, Autêntica, 2009.
PIOTTO. Debora Cristina. A
Escola e o sucesso escolar: Algumas reflexões à luz de Pierre Bourdieu.
www.ufsedu.br/portal-repositorio/file/...resumoabstract_debora_piottopdf. Disponível
em 28/11/2011 às 9h30min.
STIVAL, Maria Cristina Elias Esper.,
FORTUNATO, sarita Aparecidade Oliveira. Dominação e Reprodução na
Escola: Visão de Pierre Bourdieu.
www.pucpr,br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf676-92pdf,
Disponível em 28/11/2011 às 10h00.
http://www.webartigos.com/artigos/as-relacoes-entre-individuo-e-sociedade-sob-o-olhar-de-pierre-bourdieu/104550/
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