Para especialistas,
arrocho, privatizações e cortes em programas sociais resultarão em exclusão
social
Por Vitor
Nuzzi
Da Rede Brasil Atual
Se
é verdade que o diabo mora nos detalhes, o governo interino já forneceu alguns
sinais de mudança não só de rota, mas de concepção. Tirou, por exemplo, a
palavra "desenvolvimento" de um de seus ministérios estratégicos, o
da Indústria e Comércio Exterior, acrescido de "serviços". E em meio
a uma severa crise no mercado de trabalho, nomeou para o Banco Central um
economista que, refletindo uma ideia corrente em certa linha de pensamento,
defende que um pouco de desemprego não é ruim para a economia. Nas medidas
econômicas anunciadas pouco depois da "posse", não trouxe tanta
novidade, adotando um programa de austeridade já implementado em outros países
e com resultados perversos em termos sociais.
Depois
da divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, feita em 1º
de junho pelo IBGE, o Ministério da Fazenda saiu a público para dizer que a
"implementação intempestiva" das iniciativas anunciadas pelo governo
deve iniciar o processo de recuperação da economia "nos próximos
trimestres". Basicamente, o programa econômico se fundamenta em controle
de gastos, ou "controle rígido e rigoroso da despesa", como afirmou o
ministro Henrique Meirelles, que inclui nesse rigor setores diretamente ligados
à área social, como educação e saúde.
Medidas
dessa natureza levarão não só a uma recessão econômica, mas social, avalia o
professor João Sicsú, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ). E revelam intenções e pensamentos do governo de plantão.
"O Estado tem de estar mais presente em momentos de dificuldade. Aqui, a
situação é invertida. O Estado se retira, e o setor privado também", aponta.
"Além de não ampliar os gastos sociais, como já vinha sendo feito no
governo Dilma, agora estão tentando comprimir os gastos."
Mantra
O economista e consultor Antônio Corrêa de Lacerda, professor da
Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, concorda. "Hoje,
esse discurso da austeridade vai na contramão das experiências históricas. É
nas crises que o Estado tem de gastar", afirma. Para ele, o governo Temer
adotou o "mantra" do ajuste fiscal como solução para todos os
problemas. E repete um erro já feito pelo ministro Joaquim Levy, no início do
segundo mandato de Dilma Rousseff: fazer ajuste com a economia em baixa.
Mas
é um ajuste que pega uns e não outros, observa o professor Denis Maracci
Gimenez, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) e diretor do Centro de Estudos Sindicais e do Trabalho (Cesit) da
mesma instituição. Com o governo interino, reduz-se, sim, o papel do Estado –
nas áreas de proteção social. "E mantém muito forte onde há uma maciça
transferência de recursos públicos para o setor financeiro. Esse é o
arranjo."
Para
ele, nenhuma das medidas anunciadas pelo governo é capaz de recuperar a
economia ou garantir um sistema de proteção. Pelo contrário: "Apontam
crescente fragilização de políticas públicas, num quadro de estagnação".
Se
a ideia fosse de fato recuperar a economia, não se começaria por reformas da
Previdência Social ou da legislação trabalhista, mas por uma discussão de uma
estratégia nacional de desenvolvimento, envolvendo bancos públicos e o setor
privado, na busca da recuperação do investimento.
O
governo, porém, acena com reformas. O próprio ministro da Casa Civil, Eliseu
Padilha, afirmou em entrevista à agência de notícias Reuters que depois da
Previdência o objetivo é mirar na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
"Eu não sei se aprova até o final do ano, mas a ideia é aprovar as duas
até o final do ano para entrar no ano novo com uma nova perspectiva",
declarou.
Entidades
empresariais, que em bom número apoiaram a mudança de governo, fazem pressão
para implementar a sempre pedida flexibilização da leis trabalhistas, como
"solução" para o problema do desemprego. O professor da Unicamp
contesta: "Não há evidência empírica de que medidas de flexibilização do
mercado de trabalho gerem emprego ou conduzam à recuperação da atividade
econômica", diz. "Neste momento, só aumentaria a falta de proteção
social e debilitaria ainda mais a capacidade de arrecadação fiscal."
Ele
receia que as ações deste governo aprofundem as dificuldades, que não são
recentes. "Nos últimos dois anos, o país entrou em uma situação de
estagnação, e isso coloca em risco os avanços sociais da última década. Não
estão sob ameaça, estão indo embora, concretamente." É o que ocorre, por
exemplo, no mercado de trabalho, que sofre "uma deterioração muito rápida,
muito intensa, e vai prosseguir ao longo do ano".
Juros
Ao
falar em controle de gasto público, o governo não menciona a verdadeira sangria
de recursos: os juros. "O que vem degradando as finanças públicas muito
rapidamente é a política monetária", diz o economista da Unicamp.
"Não há nenhum motivo que impeça a redução da taxa de juros", afirma,
lembrando que com a tendência de inflação menor, o juro real aumenta.
"Essa
taxa está muito acima do nível de equilíbrio", acrescenta o professor
Lacerda. Isso dificulta também uma eventual recuperação da indústria, que
atualmente convive com um câmbio mais realista. "Mas é preciso ter uma
sinalização clara de que essa taxa (cambial) se manterá. O câmbio não para de
pé sem seu coirmão, que é a taxa de juros."
Segundo
ele, o "ajuste" já começou a ser feito – via desemprego. "E
todas as sinalizações são de redução dos benefícios, o que denota uma visão
conservadora da economia, sem a visão do papel multiplicador do investimento
público. Está no DNA. Buscam atacar os falsos problemas", afirma, para
quem o governo interino tem vícios de origem: "Acha normal ter juro alto,
cortar investimento, ter desemprego. É uma tese superada, mas está muito
presente. É aquela fé cega no mercado".
O
economista também lembra dos efeitos da Operação Lava Jato, em que pese a
importância do combate à corrupção. "O problema da operação, a despeito de
ser valiosa, é que no curto prazo ela travou a economia. É preciso que haja uma
saída para punir os executivos e recuperar as empresas. Dizer que podem ser
substituídas por empresas de fora é simplista. Não é mercado financeiro, que
você troca papel por papel."
Investimentos
Em
um cálculo preliminar, Sicsú estima que se regras anunciadas pelo governo
interino tivessem sido aplicadas nos dez últimos anos, o país teria gasto
aproximadamente R$ 200 bilhões a menos em saúde e R$ 300 bilhões a menos em
educação. Para ele, está em curso um processo de transferência de renda para o
setor empresarial e financeiro.
"Não
se pensa em fazer nenhuma grande política de investimento público", diz,
vendo ainda uma tentativa de "estrangular" o BNDES ao se propor a
devolução de R$ 100 bilhões ao Tesouro até 2018, e lamentando a ideia de
extinguir o Fundo Soberano. "Seria bastante abastecido com recursos do
pré-sal."
O
pré-sal também está na mira. A tomar posse na presidência da Petrobras, em 2 de
junho, Pedro Parente disse ser favorável ao fim da obrigatoriedade de
investimento mínimo de 30% da empresa, dando apoio a projeto do senador tucano
e agora chanceler José Serra, combatido pelos trabalhadores e por setores
nacionalistas.
Mesmo o anunciado controle é, para Sicsú, mais uma mudança de
composição de gastos, ao se aumentar "de forma extravagante,
anormal", a meta de déficit fiscal de R$ 96,7 bilhões para R$ 170,5
bilhões. "Duvido muito que no governo Dilma se conseguisse alterar uma
meta dessa forma", comenta o professor da UFRJ, para quem o governo, com
uma meta tão larga, além de dar mais dinheiro a bancos e empreiteiras, ainda
poderá posar de bom administrador fiscal.
Os
três economistas concluem que o chamado rentismo continua prevalecendo no país
– mesmo na gestão anterior. "Desde o governo Dilma, precisaríamos de um
programa de pequenas obras, colocar mais dinheiro para os mais pobres. A
economia ficaria mais dinamizada", diz Sicsú. "Empresário não gasta
nada quando a economia está desacelerando. Trabalhador de baixa renda sempre
gasta."
A soma de arrocho salarial, redução do Estado,
"sequestro" do orçamento e corte em programas sociais tem como
consequência o crescimento da desigualdade, interrompendo e até revertendo uma
trajetória positiva verificada em período recente. Mesmo que em algum momento a
economia cresça, esse processo não resultará em distribuição de renda. Será
"à la ditadura", na definição de Sicsú, lembrando que em alguns anos
o país cresceu em até dois dígitos, mas para poucos. Em uma imagem conhecida da
época, esperava-se o bolo crescer para então dividi-lo. Naquele momento,
observa, "nunca dividiram, só cresceu".
A culpa é do
desempregado
O
diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, vê na crise atual um pretexto
para jogar a conta "nas costas do trabalhador". Seja para afirmar que
ele é responsável pelo desemprego, por falta de qualificação, ou para dizer que
o movimento sindical não ajuda na busca de alternativas, recusando-se a aceitar
a chamada flexibilização. "O emprego é resultado da dinâmica
econômica", afirmou, durante debate que reuniu as centrais sindicais
justamente para debater a situação do mercado de trabalho. Em abril, a taxa
nacional de desemprego atingiu recorde de 11,2%, com estimativa de 11,4 milhões
de desempregados, Segundo o IBGE.
Ele
lembrou que no final de 2015 centrais e entidades empresariais aprovaram um
Compromisso pelo Desenvolvimento, com sete diretrizes para retomada da
economia. O documento lista itens como recuperação do setor da construção
civil, afetado pela Operação Lava Jato – "Estamos acabando com um dos
setores estratégicos da economia brasileira" –, da capacidade de
investimento do Estado e do crédito para empresas e famílias, além de políticas
de promoção e proteção ao emprego.
"Não
é um problema de curta duração. Levaremos alguns anos para recuperar o nível de
emprego de dois anos atrás", observa Clemente. "O diálogo é o melhor
caminho." Em documento recente, o Dieese lembra que a agenda de
austeridade adotada ainda no final de 2014, antes da posse do governo Dilma,
esteve longe de responder satisfatoriamente ao desafio de fazer a economia
crescer e o emprego se recuperar.
Série/turma:1M
ResponderExcluirAluno:Adrian Soares de almeida
Número:1
Lendo esse artigo percebi logicamente a falta de preocupação do governo com os setores ligados a área social,como a educação e saúde.
Isso já nos leva a concepção de que o trabalhador que irá sofrer as consequências devido a sua baixa condição monetária por exemplo:o governo querendo fazer uma ajuste na flexibilidade do mercado de trabalho para gerar mais empregos ou conduzir a recuperação da atividade econômica,mas se pararmos para analisar neste momento só aumentaria a falta de proteção social e debilitaria ainda mais a capacidade de arrecadação fiscal.
Também achei interessante a frase do economista e consultor Antônio Corrêa de Lacerda "E nas crises que o estado tem que gastar",o nosso governo e tão corrupto que ao invés de ajudar na época de crise eles "fecham a mão" financeiramente prejudicando ainda mais o país ,pois eles deviam por uma discussão de uma estratégia nacional de desenvolvimento ,envolvendo bancos públicos e o setor privado,na busca de recuperação do investimento.
Um fator que não devemos esquecer e o termo "juros" isso vem degradando as finanças públicas muito rapidamente e a política monetária ,não há nenhum motivo que impeça a redução da taxa de juros ,essa taxa esta muito acima do equilíbrio e isso impede uma eventual recuperação da indústria.
Um fator preocupante é o governo tentar jogar a culpa da crise "nas costas do trabalhador",pois afirmam que o índice de desemprego e por falta de qualificação,ou para dizer que o movimento sindical não ajuda na busca de alternativas,recusando-se a aceitar a chamada flexibilização.
O desemprego e um fator preocupante é o mínimo que o governo pode fazer é encontrar uma solução para isso ao invés de dar as costas para o país,porque afinal o Brasil não é nada sem a relação indivíduo e sociedade em que sem os indivíduos que administram o país a sociedade que somos nós pagamos por todos os seus erros, da mesma forma que os indivíduos dependem da sociedade para atuar no desenvolvimento do país.
O dinheiro é criado pelo banco central e em seguida entregue ao sistema bancário. O sistema bancário se encarrega de multiplicar esse dinheiro por meio da expansão de crédito e então esse dinheiro entra em economia por meio de endividamento de empresas e pessoas.
ResponderExcluirAs consequências de um sistema monetário baseado em uma moeda fiduciária são para eles desconsideradas. Essa expansão de oferta monetária feita pelos bancos centrais e pelo sistema bancário é o que gera inflação de preços e um enfraquecimento de renda . Quando os preços aumentam em decorrência de uma expansão , os preços de bens e serviços não aumentam com a mesma intensidade e nem ao mesmo tempo. Uma inflação da oferta monetária pode gerar pobreza e desigualdade de renda.
O estado continua aumentando seu poder com a desculpa de estar domando o sistema de mercado, que gerou a tal desigualdade e o empobrecimento relacionado e criado pelo o próprio. Eles ignoram por provavelmente estar se beneficiando do sistema.
Aluna: Iara Amorim
Turma : 1 "O"
Nº:36