DIFERENÇAS ENTRE INDIVÍDUO E SOCIEDADE
A
visão dicotômica entre indivíduo e sociedade é fundamental nas Ciências
Sociais, e faz parte dos primórdios do desenvolvimento da Sociologia, que
surgiu em meio a um crescente processo de industrialização iniciado ainda no
século XVIII e que levou ao surgimento de inúmeros problemas sociais no início
do século seguinte, quando surgiu a disciplina. Podemos dizer que as
transformações ocorreram pela transição de uma realidade rural para um ambiente
urbano e industrial. O advento de estruturas sociais mais complexas fez
com que os homens se vissem na necessidade de compreendê-las. Brota uma nova
ciência que, partindo do instrumental das ciências naturais e exatas, tenta
explicar a realidade, estudando sistematicamente o comportamento social dos
grupos e as interações humanas.
Chineses cruzando a rua na cidade de Nanjing. (Foto: Stougard/Wikimedia
Commons)
Basicamente
buscou-se compreender que todas as relações sociais estão conectadas, formando
um todo social, que chamamos de sociedade. A passagem de uma sociedade rural
para uma sociedade urbana, com a formação de grandes cidades, abriu novos
espaços de sociabilidade, em que conviveram pessoas diferentes e estranhas umas
às outras, com objetivos e motivações distintas. Esses novos espaços
substituíram os espaços tradicionais de relações. Essa transição é essencial
para compreender a sociologia. O rápido processo de urbanização provocou a
degradação do espaço urbano anterior, do meio ambiente, e a destruição dos
valores tradicionais. As indústrias atraíram as populações rurais para as
cidades.
CONCEITOS
DE SOCIEDADE
A
sociedade, tal como passou a ser compreendida no início do século XIX,
pressupunha um grupo relativamente autônomo de pessoas que ocupavam um
território comum, sendo, de certa forma, constituintes de uma cultura comum.
Além disso, predominava a ideia de que as pessoas compartilhavam uma
identidade. As relações sociais, não só referentes às pessoas, mas, inclusive,
às instituições (família, escola, religião, política, economia, mídia),
moldavam as diversas sociedades. Assim, havendo uma enorme conexão entre essas
relações, a mudança em uma acarretaria numa transformação em outra.
A
sociedade é entendida, portanto, como algo dinâmico, em permanente processo de
mudança, já que as relações e instituições sociais acabam por dar continuidade
à própria vida social. Torna-se claro, ademais, que existe uma profunda e
inevitável relação entre os indivíduos e a sociedade. As Ciências Sociais
lidaram com essa relação de diferentes modos, ora enfatizando a prevalência da
sociedade sobre os indivíduos, ora considerando certa autonomia nas ações
individuais. Para o antropólogo Ralph Linton, por exemplo, a sociedade, em vez
do indivíduo, é a unidade principal, aquela onde os seres humanos vivem como
membros de grupos mais ou menos organizados.
OBJETO
DE ESTUDO
A
sociologia é o estudo científico da sociedade. Parte de métodos científicos
(observação, análise, comparação) e possui objetos de estudo específicos. Traz
para o campo das ciências a figura do cientista social. Assim, diferentes de
outras ciências, a sociologia tem como parte integrante de seu objeto de estudo
o próprio observador. Este, ao mesmo tempo em que observa o fenômeno, sofre
influência e influencia seu objeto de estudo.
Essa
realidade leva a uma discussão sobre a objetividade do trabalho científico e sobre
a (im)possível neutralidade do cientista social. Fato que não ocorre nas
ciências físicas, por exemplo, o homem desempenha um duplo papel nas ciências
sociais: é ao mesmo tempo objeto e sujeito do conhecimento. Aquele que
desempenha as ações sociais e as interpreta. Por isso se busca tanto a
objetividade nos casos estudados.
WEBER
X DURKHEIM
Dois
dos principais mestres da sociologia clássica compreenderam de maneira diversa
a relação entre indivíduos e sociedade.
Índios Pay Tavera, parte da tribo Panambi'y, no Paraguai (Foto:
Wikimedia Commons)
Enquanto
Emile Durkheim priorizou a sociedade na análise dos fenômenos sociais,
considerando-a externa aos indivíduos e determinadora de suas ações, Max Weber
entendia ser preponderante o papel dos atores sociais e as suas ações. Weber
entendia a sociedade como o conjunto das interações sociais. A “ação social”,
objeto de estudo weberiano, toma este significado quando seu sentido é
orientado pelo conjunto de pessoas que constituem a sociedade.
Para
Durkheim, os fatos sociais são anteriores e exteriores aos indivíduos,
exercendo sobre eles um poder coercitivo que se impõe sobre as vontades
individuais. Num sentido oposto, Weber priorizou as ações individuais para
compreender a sociedade, considerando-as como um componente universal e
particular da vida social, fundamental para se conhecer o funcionamento das
sociedades humanas, em que vigoram as interações entre indivíduos e grupos
sociais.
http://educacao.globo.com/sociologia/assunto/conflitos-e-vida-em-sociedade/individuo-e-sociedade.html,
21/10/2017, 21:33
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